terça-feira, 30 de abril de 2013

A razão é astuta nos trópicos? Interpretação/gramática



O Brasil não é para principiantes - a frase justamente famosa tem sua autoria atribuída a um dos nossos maiores artistas. Falta dizer que também não é para os veteranos, até para os curtidos, no esforço de toda uma vida, em tentativas de interpretá-lo e sondar os rumos do seu destino. De fato, o cenário que o observador, principiante ou não, tem diante de si é de desnortear, uma construção surreal a desafiar o seu julgamento: isso que aí se desenrola é uma tragédia ou uma comédia com a qual ainda não aprendemos a rir?


Para todos os efeitos, nacionais e internacionais, o senso comum tem como ponto firmado que o País é governado pela esquerda há mais de uma década, primeiro por Lula, formado nos quadros do sindicalismo de ponta da região do ABC paulista, depois por Dilma Rousseff, com histórico em movimentos radicalizados de combate ao regime militar. Aceita essa premissa, não isenta de controvérsia, o problema está em identificar a natureza dessa esquerda que tem favorecido mais as forças da conservação do que as da mudança.

Entre tantos, dois casos deveriam ser perturbadores para a esquerda: a preservação das antigas elites tradicionais, em particular as originárias do mundo agrário, alçadas, por sua iniciativa, a posições de mando nas estruturas do poder governamental graças ao controle político que exercem na política local - não bastasse, muitas delas são bafejadas com recursos públicos para se tornarem aptas ao exercício de papéis destacados na moderna economia capitalista brasileira; e a criação de vínculos inéditos, em nossa História republicana, entre política e religião, em particular as de culto pentecostal, que têm um dos seus eminentes praticantes conduzido a um ministério do governo, o da Pesca, embora, como notório, inteiramente jejuno na matéria.

Em ambos os casos, tais relações, sempre justificadas em nome da governabilidade e do que seriam as necessárias alianças a fim de dar continuidade a uma política que se apresenta como de esquerda, imprimem ao governo uma configuração quasímoda, para usar uma metáfora cara a Raymundo Faoro - a parte moderna mal equilibrada pelo lastro que carrega do que há de mais recessivo e anacrônico na sociedade brasileira.

Nessa bizarra construção, o moderno abdica da pretensão de conduzir o atraso, impondo-lhe seu ritmo e sua lógica. Ao contrário, confunde-se com ele, impondo ao que seriam as suas forças próprias marchar de acordo com o andamento das forças retardatárias. Pior, com frequência submetendo-se a elas. Deriva daí que os movimentos sociais que vêm amparando a sua sustentação encontrem poucos estímulos à mobilização, deixando de concertar relações horizontais entre eles. A extrema pluralidade das centrais sindicais é uma das testemunhas dessa fragmentação.

Os espaços estatais, nessa lógica torta, convertem-se assim no lugar privilegiado da sua comunicação, onde são ponderadas suas razões e estabelecidos os limites para ação. Não à toa, para os padrões usuais a um governo de esquerda, vive-se um ciclo de baixa na mobilização social, que, quando ocorre, expressa, em geral, demandas de categorias específicas. A vocalização, de preferência, dirige-se para cima, em especial para uma secretaria do governo destinada a lhe prestar audiência.

Nesse processo, a esfera pública política míngua, contornada pelas vias abertas pelo Estado a fim de acolher os movimentos da sociedade civil, para onde deságuam as pretensões de todos. Noutra ponta, o contubérnio entre moderno e atraso tem facultado a este último acesso fácil a posições influentes na esfera pública, inclusive nos lugares em que transitam matérias sensíveis como a dos valores e dos princípios, hipotecando as modernas gerações a um passado de sombrio anacronismo. Exemplar disso é o caso desse espantoso deputado Marco Feliciano (PSC-SP), posto à testa da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, que, por definição, caberia a um parlamentar atento e sensível aos novos temas que irrompem na cena contemporânea, e não a uma mentalidade reacionária e de entendimento curto.

Fora de dúvida que a esquerda, quando no governo, não pode ignorar seus compromissos com uma ética de responsabilidade. Não há, porém, muralha da China, como já advertia Weber em seus textos clássicos sobre o assunto, entre a ética de responsabilidade e a ética de convicção, tal como na leitura do notável especialista em sua obra Wolfgang Schluchter (Paradoxos da Modernidade, São Paulo, Edusp, 2010). E, por falar em China, ela própria, a seu modo, com a presença de Confúcio encravada em sua História, um bom testemunho disso.

Sob domínio de uma razão instrumental, em que se busca o poder pelo poder, são os princípios que cedem, inclusive - em alguns casos, até principalmente - aqueles com que essa esquerda que aí está se credenciou na opinião pública. Ela nasce em nome da defesa da autonomia dos movimentos sociais diante do Estado, em particular do sindicalismo, da demanda por ética na política, da denúncia corrosiva da estatolatria imperante e do patrimonialismo na administração pública, teses e temas com que renovou nosso repertório político e que, na sua trajetória no poder, acabou por deixar de lado.

Hegel falava na astúcia da razão, que, em meio aos maiores obstáculos, sempre encontraria um modo superior de realização. Nessa marcha à ré em que nos encontramos, quando se devolve à moderna sociedade brasileira o pior do seu passado, devemos duvidar da sua ação sob os trópicos, ou esse regresso, ardilosamente, somente pressagia que agora estamos prontos para enterrá-lo definitivamente?
* Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador da PUC-Rio. E-mail:lwerneck096@gmail.com.

FONTE ESTADÃO

ontogênese e o aprender/ interpretação de texto/gramática


Responda.

O uso da palavra aprender não acompanhou o progresso científico. O resultado é que ainda usamos a mesma palavra para descrever dois fenômenos distintos. Considere a seguinte frase: "Meu filho aprendeu a andar com 1 ano e aprendeu a escrever com 6". Esses dois processos, descritos como "aprender", são fenômenos muito diferentes. Não reconhecer essa diferença atrapalha nossa concepção de educação.

Todas as pessoas, de qualquer origem, nascidas em qualquer sociedade nos últimos milhares de séculos, começaram a andar na infância. Por outro lado, somente uma pequena fração das pessoas sabe escrever - e essa capacidade apareceu entre os humanos faz alguns milhares de anos. A razão é simples e conhecida dos biólogos há muito tempo. Andar faz parte de nossa ontogênese; escrever faz parte de nossa herança cultural.


Ontogênese é o nome dado ao processo de formação de um ser vivo. Descreve a transformação de uma semente em árvore ou o surgimento de uma pessoa a partir de um óvulo fecundado. Inicialmente, o conceito de ontogênese era usado para descrever as mudanças de forma durante o desenvolvimento de um ser vivo. Descrevia a formação da espinha vertebral, do coração, o aparecimento dos dedos, o crescimento do cabelo, e todas as mudanças que ocorrem antes do nascimento. Mas o processo de ontogênese continua após o nascimento. O corpo cresce, atingimos a maturidade sexual, paramos de crescer e finalmente começamos a envelhecer. São as etapas inevitáveis de nossa ontogênese.

A ontogênese se caracteriza por uma sequência de eventos que ocorrem de maneira precisa e semelhante em todos os seres vivos de uma espécie. Ela é determinada por nossos genes e modulada pelo meio ambiente. Todas as crianças crescem, mas, se bem alimentadas, crescem mais rápido.

Não é usual utilizarmos a palavra aprender para descrever processos que fazem parte da ontogênese. É por isso que afirmar que "minha filha aprendeu a menstruar aos 13 anos" soa estranho. Ao longo de todo o século XX houve uma melhor compreensão dos processos que fazem parte de nossa ontogênese e se descobriu que um número crescente de etapas pelas quais passamos durante a vida é parte de nossa ontogênese.

É o caso do andar e do falar, cujos aparecimentos estão codificados em nossos genes da mesma maneira que a capacidade de crescer pelos pubianos. É muito difícil, e é necessário um ambiente muito hostil, para evitar que uma criança desenvolva o andar e a capacidade de falar. No caso da fala, sabemos que a língua que a pessoa vai utilizar depende unicamente do ambiente ao qual ela está exposta, mas o surgimento, nos primeiros anos, da capacidade de falar alguma língua faz parte de nossa ontogênese.

Aos poucos, os cientistas descobriram que um número crescente de características que desenvolvemos em alguma fase de nossa vida faz parte de nossa ontogenia. Hoje sabemos que nascemos com a capacidade de fazer adições e subtrações de pequenos números (até três ou quatro). Sabemos que parte de nossa capacidade de julgamento moral, de convivência social, de comunicação por meio de expressões faciais e inúmeras outras características comportamentais também fazem parte de nosso processo ontogenético.

Nossa ontogênese surgiu à medida que nossa espécie e a de nossos ancestrais foi moldada pelo processo de seleção natural. Cada etapa e cada característica de nossa ontogênese foram incorporadas ao longo de milhões de anos e agora fazem parte das características de nossa espécie. O surgimento de um dedo durante nossa vida no útero e de nossa capacidade de somar números pequenos ao nascer é o resultado de um único e longo processo de seleção natural. É por isso que essas capacidades surgem aparentemente de forma espontânea durante as diferentes fases de nossa vida. Como são programadas para ocorrer, seu aparecimento é difícil de ser evitado e, caso seu aparecimento seja inibidos violentamente, as consequências podem ser nefastas para o indivíduo.

A distinção entre esses dois fenômenos seria mais fácil se a palavra aprender fosse restrita à aquisição de novas características e habilidades que não fazem parte de nosso processo ontogenético. Fazer operações matemáticas com números grandes, escrever, andar de bicicleta, calcular a órbita de um satélite e programar um computador são capacidades que podemos adquirir porque nosso corpo e cérebro têm a flexibilidade para incorporar novos comportamentos e conhecimentos, mas não foram moldadas pela seleção natural nem incorporadas à nossa ontogênese.

Essas habilidades foram descobertas muito recentemente pelo homem e derivam da evolução cultural. Esses aprendizados podem ser incluídos no repertório de cada um de nós de maneira opcional, num processo que chamamos de educação. E, como todos sabemos, sua incorporação depende de um grande esforço e dedicação de quem ensina e de quem aprende, leva um longo tempo e consome muita energia dos indivíduos e da sociedade.

Reconhecer as mudanças que fazem parte de nossa ontogênese e separar e cultivar de maneira distinta as mudanças ontogenéticas das induzidas pelo processo educacional podem gerar seres humanos mais felizes. Mas para isso não podemos confundir os dois fenômenos que hoje chamamos de "aprender".
* Fernando Reinach é biólogo.

Priscila, você é advogada do dono do circo. Escreva-lhe uma carta prometendo-lhe entrar com recurso para que o circo volte a funcionar.




Circo continua proibido de exibir animais



Decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve liminar da Justiça baiana que proíbe a exibição de animais pelo Circo Estoril. Laudo técnico constatou que há negligência da empresa com o bem-estar dos animais, que apresentam comportamento invariável e estereotipado. 
 
A disputa judicial teve início com uma ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público da Bahia. Uma liminar foi concedida para determinar a suspensão da exibição dos animais pertencentes ao Circo Estoril, sob pena de multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento. 
 
Houve recurso ao Tribunal de Justiça da Bahia, que manteve a liminar. O circo recorreu, então, ao STJ. Sustentou que não é vedada a exibição de animais e que não foram comprovados maus tratos. Por isso, a liminar deveria ser revogada. 
 
O relator, ministro Mauro Campbell Marques, observou que a fundamentação da decisão contestada baseou-se em legislação infraconstitucional e constitucional, cada qual possível de manter a decisão. No entanto, não foi interposto, pelo circo, recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal (STF), o que resultou na incidência da Súmula 126/STJ, que determina ser inadmissível o recurso especial. 
 
Igualmente, quanto à concessão da liminar, Campbell obervou que a decisão foi tomada a partir da análise de fatos e, principalmente, de provas, cuja reanálise não é permitida ao STJ. Por isso, o ministro negou seguimento ao recurso especial. 
 
Laudo técnico do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concluiu que, apesar de não haver sinais de maus tratos e crueldade com os animais, haveria negligência do circo com o bem-estar deles. Conforme o laudo, não são desenvolvidas atividades recreativas de estímulo dos animais, o que lhes causa comportamentos fixos. 
 
“Do referido laudo técnico se extrai que o urso é mantido diariamente em uma carreta de transporte, apresentando comportamento invariável, andando em círculos no sentido anti-horário continuadamente. Do mesmo modo, foi constatado que a fêmea do elefante (aliá) também apresentava comportamento estereotipado, mantendo-se por muito tempo no mesmo local, apenas balançando a cabeça de um lado para o outro”, destacou a decisão da segunda instância.
 
Processo: Ag 1398439 
 
Fonte: STJ

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A QUESTÃO DO ABORTO. LEIA E ESCREVA A RESPEITO. DISSERTAÇÃO.

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/04/1270300-luiz-e-garcez-leme-a-revolucao-hipocratica.shtml


Poucos se dão conta de que uma tragédia assola o país, sem alardes no noticiário. No Brasil, por ano, de 250 a 300 mulheres morrem em decorrência de abortos clandestinos.
A maioria delas é jovem, negra, analfabeta, tem baixa escolaridade e nível socioeconômico. Por ser crime, a conta é incerta, mas o impacto da perda dessas vidas desestrutura famílias e enterra sonhos.
As estimativas falam em cerca de 1 milhão de abortos realizados na ilegalidade anualmente no país. Desse total, ao menos um quarto gera complicações que levam a internações para curetagens pós-abortamentos na rede pública. Muitas mulheres ficarão estéreis ou terão a saúde comprometida por toda a vida.
Isso ocorre à sombra do nosso anacrônico Código Penal (de 1940), cujos estreitos limites excludentes de ilicitude do aborto não dialogam com os compromissos humanísticos inerentes à responsabilidade social e aos tratados internacionais subscritos pelo governo brasileiro.
Há pouco, o Conselho Federal de Medicina --em resposta a solicitação da comissãoespecial do Senado criada para cuidar da reforma desse código-- decidiu expressar ser favorável à ampliação do leque de situações em que há exclusão de ilicitude.
Ora, essa decisão não transforma a entidade em defensora do aborto ou de sua descriminalização. O que está em discussão é o aumento do número de "causas excludentes de ilicitude". Ou seja, em determinadas situações previstas em lei, a interrupção da gestação não configurará crime. Atos praticados fora desses parâmetros serão punidos.
A análise de tema tão complexo não pode ser tratada de forma maniqueísta, de reserva teológica ou de fé dogmática. Espera-se o equilíbrio e a isenção que permitam enxergar no aborto a relevância de um grave quadro de saúde pública.
Nesse debate, o tema do aborto deve ser analisado sob o prisma da autonomia individual e da realidade trágica que leva mulheres a arriscarem a vida. Por medo de serem punidas pela Justiça, realizam procedimentos sem segurança.
A prática do aborto clandestino prevalece em países onde as leis sobre o tema são mais restritivas.
Em 97 países, que concentram cerca de 70% da população mundial, há regras que permitem a interrupção da gestação. Em outros 93, a prática é proibida ou só é permitida em situações especiais, como deformações do feto, violações ou risco de vida para a mãe. A Organização Mundial da Saúde calcula a realização de 46 a 55 milhões de procedimentos anuais em todo o mundo. Cerca de 80% deles em países em desenvolvimento.
Alarcão
Estudos indicam que, em países onde houve reformas legais com ampliação do número de situações de excludência de ilicitude, caiu de forma significativa a morbimortalidade materna. Nesses locais, com o aumento da procura das mulheres por informação em saúde sexual e reprodutiva e por métodos contraceptivos, reduziram-se as situações de gestação indesejada e, consequentemente, de abortos.
Não podemos prever de forma cartesiana que isso se reproduzirá no Brasil, apesar dos indícios científicos dessa possibilidade.
O que nos parece relevante é discutir o tema com todos os setores da sociedade, para tratá-lo sem subterfúgios. É preciso encontrar o melhor caminho para impedir que a transformação do direito à vida assuma o caráter de dever de sofrimento para milhares de mulheres.
Num país marcado pela desigualdade, apenas o exercício da razão, da compaixão e da solidariedade poderá evitar novas tragédias ou a manutenção dos dramas silenciosos.
OLÍMPIO BARBOSA DE MORAES FILHO é professor da Universidade de Pernambuco e vice-presidente da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia no NE
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29/04/2013 - 03h30

Luiz E. Garcez Leme: A revolução hipocrática

Para todos aqueles que têm interesse por ética de pesquisa e bioética, alguns temas são familiares. A questão do aborto é típica.
A favor do aborto (ou de seus sinônimos adocicados) esgrime-se com o pacote de argumentos dos direitos de autonomia da mulher, sem se conceder direitos ao embrião; da imaginada impessoalidade do embrião, sem explicar o que seriam então essas curiosas células que se desenvolvem e estruturam com um genoma distinto do da mãe; da conveniência social e de saúde pública.
Contra o aborto esgrime-se essencialmente com os direitos da pessoa humana desde a concepção; da superioridade do direito à vida sobre a conveniência social ou pessoal, que impede, por exemplo, que se assassine um vizinho incômodo.
Existem também os dados oficiais de mortalidade materna do Ministério da Saúde (Datasus), que destoam de muitos dados usados como bandeiras a favor do aborto.
A questão não é atual. Entre gregos e romanos a prática do aborto, do infanticídio, do suicídio e de outras formas de intervenção na vida era conhecida e até comum. O mesmo pode-se dizer do ponto de vista social sobre a pedofilia, a sujeição da mulher ou a escravidão.
Em meio a essa realidade, vários séculos antes de Cristo, alguns já anteviam que não era este o caminho para o verdadeiro cuidado do ser humano. Tal percepção levou os discípulos de Hipócrates de Cós a elaborarem uma série de normas que confrontava a prática vigente colocando o ser humano em primeiro lugar.
Durante quase 2.500 anos os médicos têm proclamado, desde sua formação, que o cumprimento dos princípios hipocráticos é essencial não só ao exercício profissional mas à sua própria existência.
Na verdade os princípios do assim chamado juramento hipocrático nesses 25 séculos deixaram de ser patrimônio de médicos ou pacientes para tornarem-se patrimônio comum de todos. São bases de percepção da dignidade humana.
O texto pode ser dividido em dois grupos de compromissos: os referentes à vida biológica e os referentes à vida biográfica, ambos componentes humanos indispensáveis.
Do ponto de vista biológico, o compromisso veta a agressão à vida pela má prática, o aborto ou o suicídio assistido. Do biográfico, exige o direito à intimidade e ao sigilo e veta a utilização da atividade médica para dano ou sedução.
O que impressiona é que o juramento deixa explícito que esses direitos e deveres são válidos para homens ou mulheres, livres ou escravos. Revolucionário para a época hipocrática e, infelizmente, parece que também para a nossa.
A controversa posição da atual diretoria do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre a possibilidade de aborto até o terceiro mês de vida da criança, tal como amplamente veiculada pelos meios de comunicação, não parece ter em conta o compromisso sobre o qual todos os médicos, velhos ou novos, algum dia juramos.
Não me parece que o CFM tenha, ao lado de outras atribuições legítimas, autoridade suficiente para anular o juramento hipocrático.
A proteção do mais frágil baseada em direitos que subsistem em qualquer situação está na essência radical do agir médico.
A comunidade, mesmo a mais simples, sabe disso e cobra com acerto esse direito quando se sente ameaçada. Qualquer médico com um mínimo de experiência já ouviu em algum pronto-socorro do passado de um familiar desesperado: "Doutor, os senhores têm que fazer alguma coisa... Os senhores juraram!". É verdade: nós juramos!
LUIZ E. GARCEZ LEME é médico, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador da Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da mesma universidade

Conceito de Indústria Cultural em Adorno e Horkheimer. leitura


Para Adorno e Horkheimer a indústria cultural possui padrões que se repetem com a intenção de formar uma estética ou percepção comum voltada ao consum
Para Adorno e Horkheimer a indústria cultural possui padrões que se repetem com a intenção de formar uma estética ou percepção comum voltada ao consum
Apesar de a Indústria Cultural ser um fator primordial na formação de consciência coletiva nas sociedades massificadas, nem de longe seus produtos são artísticos. Isso porque esses produtos não mais representam um tipo de classe (superior ou inferior, dominantes e dominados), mas são exclusivamente dependentes do mercado.
Essa visão permite compreender de que forma age a Indústria Cultural.Oferecendo produtos que promovem uma satisfação compensatória e efêmera, que agrada aos indivíduos, ela impõe-se sobre estes, submetendo-os a seu monopólio e tornando-os acríticos (já que seus produtos são adquiridos consensualmente).
Camuflando as forças de classes, a Indústria Cultural apresenta-se como único poder de dominação e difusão de uma cultura de subserviência. Ela torna-se o guia que orienta os indivíduos em um mundo caótico e que por isso desativa, desarticula, qualquer revolta contra seu sistema. Isso quer dizer que a pseudo felicidade ou satisfação promovida pela Indústria Cultural acaba por desmobilizar ou impedir qualquer mobilização crítica que, de alguma forma, fora o papel principal da arte (como no Renascimento, por exemplo). Ela transforma os indivíduos em seu objeto e não permite a formação de uma autonomia consciente.
Englobando a sociedade como um todo, com um pequeno número de evasão, é quase impossível romper com tal sistema produtivo. Aqueles que se submetem a esse modelo de indústria nada mais fazem que falar de modo diferente a mesma coisa. Porém, uma certa crítica ainda pode ser vista naqueles que fomentam um tipo de arte que produz efeitos estéticos fora da padronização oferecida pela indústria. Mesmo assim, é uma tentativa que fica à margem do sistema porque não agrada àquelas consciências acostumadas com um modelo estandardizado.
O próprio Adorno, como um dos integrantes da Escola de Frankfurt, onde foi desenvolvida a Teoria Crítica, construiu um tipo de música calculada nos moldes das músicas clássicas e eruditas, mas com uma melodia aparentemente horripilante aos ouvidos acostumados aos acordes da música clássica tradicional (leia-se burguesa). Sua pretensão é justamente desacostumar a percepção daquela noção tradicional de ordem e harmonia (já que sua música só parece desarmônica, mas na verdade é totalmente ordenada e arranjada – dodecafônica) prevalecente na cultura burguesa vigente à época.
Para Adorno e Horkheimer, Indústria Cultural distingue-se de cultura de massa. Esta é oriunda do povo, das suas regionalizações, costumes e sem a pretensão de ser comercializada, enquanto que aquela possui padrões que sempre se repetem com a finalidade de formar uma estética ou percepção comum voltada ao consumismo. E embora a arte clássica, erudita, também pudesse ser distinta da popular e da comercial, sua origem não tem uma primeira intenção de ser comercializada e nem surge espontaneamente, mas é trabalhada tecnicamente e possui uma originalidade incomum – depois pode ser estandardizada, reproduzida e comercializada segundo os interesses da Indústria Cultural.
Assim, segundo a visão desses autores, é praticamente impossível fugir desse modelo, mas deveríamos buscar fontes alternativas de arte e de produção cultural, que, ainda que sejam utilizadas pela indústria, promovessem o mínimo de conscientização possível.

Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMPhttp://www.brasilescola.com/cultura/industria-cultural.htm

Tratamento e consumo de água


FONTE:
http://ricardorose.blogspot.com.br/


sábado, 27 de abril de 2013

"Mesmo hoje em dia, continua prevalente a ideia de que os empregos industriais exigem maiores qualificações do que os empregos do setor de serviços, e que os trabalhadores do setor de serviços são caricaturados como 'biscateiros' ou 'artistas de teatro mambembe'."  -  James Teboul  -  Serviços em Cena

A cada ano, no dia 22 de março, celebra-se o Dia Mundial da Água. A data comemorativa foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992, para levantar discussões sobre este precioso recurso com o lançamento do documento "Declaração Universal dos Direitos da Água". O debate sobre este tema nunca é demais, já que grande parte dos recursos hídricos do planeta ainda está sendo desperdiçada e poluída. O quase desaparecimento do mar de Aral na Ásia Central, o rebaixamento do lençol freático em várias regiões do globo, o assoreamento de grandes rios; são sinais de que ainda há muito por fazer na gestão dos recursos hídricos.
A água, apesar de ser relativamente comum no universo é rara na forma líquida sobre a superfície dos planetas. A Terra é um dos poucos planetas que abriga grandes quantidades deste elemento: os oceanos contêm 97% da água superficial do planeta; as geleiras e calotas polares têm 2,4%; rios, lagos e lagoas abrigam 0,6%. A água disponível para consumo das espécies vivas, incluindo os humanos, é limitada, mas não insuficiente. Através do ciclo hidrológico o líquido é depurado e redistribuído, atendendo às necessidades dos ecossistemas da Terra. Este processo ocorre desde a formação do planeta, há 4,6 bilhões de anos. Os problemas efetivamente apareceram quando pela ação do homem seu uso se tornou excessivo e a água passou a ser devolvida ao meio ambiente contaminada por elementos orgânicos e inorgânicos, na forma de efluentes e lodos. Nesta situação, o ritmo de depuração natural da água é lento demais para as necessidades de uma civilização perdulária com os recursos naturais e aí começam a aparecer os problemas. Aqui vale lembrar que toda a preocupação com a poluição e a crescente escassez da água em determinadas regiões da Terra, afeta principalmente os seres humanos. Se, por algum acaso, desaparecermos como espécie, o ciclo hidrológico cuidará da despoluição das águas ao longo das eras. Não somos necessários para o funcionamento do planeta. 
O volume de água disponível na Terra, desde sua origem, permaneceu quase inalterado. Os cientistas afirmam que apesar de toda a contaminação a que é submetida, a água não desaparecerá, mas poderá se tornar cada vez mais poluída e misturada a resíduos sólidos. Este processo fará com que sua limpeza para usos mais nobres se tornará gradualmente mais cara e sua concentração - em lagos, rios e no subsolo – poderá mudar. Por exemplo: a água que se tornou cada vez mais rara no Norte da África nos últimos dez mil anos – seja na forma de precipitação ou no subsolo –, propiciando a formação de um deserto, deslocou-se para outras regiões do planeta, através do ciclo hidrológico. São os fatores climáticos como os ventos e temperatura, associados aos aspectos geográficos (montanhas, oceanos, rios, vegetação), que fortemente influenciam a incidência de chuvas, principal fator no ciclo da água. Este processo de realocação dos recursos hídricos é constante e sujeito a inúmeros aspectos adicionais, que ocorrem ao longo de extensos períodos de tempo, como as radiações solares, a mudança do eixo da Terra, erupções vulcânicas, maremotos, etc. Daí a grande dificuldade de se desenvolver modelos simulados de ciclos hidrológicos de grandes regiões ou longos períodos.    
O impacto humano sobre os recursos hídricos aumenta junto com o crescimento da população. Se antes a poluição era restrita a áreas habitadas e de atividade agrícola, com o início da industrialização estes aspectos mudam: em 1800 ahumanidade atingiu a marca de um bilhão de pessoas, no início da primeira fase da Revolução Industrial. Daí para frente o crescimento populacional aumentou num ritmo cada vez mais rápido: em 1930 o mundo tinha dois bilhões de habitantes; 1960, três bilhões; 1975, quatro bilhões; 1987, cinco bilhões; 1999, seis bilhões e 2012, sete bilhões de pessoas. O crescimento da população só foi possível com uma maior oferta de bens e alimentos, para cuja produção foi necessário mais consumo de água.

Os primeiros impactos significativos que os humanos provocaram sobre os recursos hídricos ocorreram com a prática regular da agricultura, que teve início há aproximadamente oito mil anos. Grandes extensões de áreas plantadas, geralmente localizadas em regiões de pouca precipitação pluviométrica (Egito, Suméria e vale do Indo), precisavam ser irrigadas, através da construção de canais. Assim além de descarregar resíduos e efluentes sanitários nos rios, estas culturas também fizeram obras de engenharia que influíam no fluxo regular dos rios e na qualidade de suas águas. Foram estas as civilizações que primeiramente mostraram uma preocupação com a qualidade da água potável. Métodos de melhoria do gosto ou do odor da água potável datam de antes de 4.000 a.C. Os documentos mais antigos tratando deste tema foram encontrados em tumbas egípcias e em documentos da antiga Índia, onde um texto médico denominado Sus´ruta Samita, datado de 2.000 a.C., dá instruções sobre o tratamento da água. Os métodos incluem a fervura, aquecimento da água pela luz solar, a colocação de ferro aquecido na água, processos de filtragem com gravetos e areia e mistura de certas sementes ou pedras à água. Nas paredes dos túmulos de Amenophis II e Ramses II, faraós do 15º e 13º séculos a.C. respectivamente, encontram-se desenhos de equipamentos para limpeza da água. Os gregos e romanos também desenvolveram técnicas para purificação, já que os últimos tinham criado sofisticada engenharia para captação e transporte de água através dos aquedutos.
As tecnologias de depuração da água não sofreram alterações significativas durante todo o período medieval, até o início da Era Moderna. As pequenas cidades da Idade Média eram abastecidas por água de poços, espalhados pelo perímetro urbano, oferecendo água de relativa qualidade, limitando o surgimento de epidemias provocadas por água contaminada. A partir dos séculos XI-XII, com o aumento da população urbana e a lenta contaminação do subsolo, a disenteria tornou-se doença comum. Causada por bactérias ou amebas e disseminada por alimentos e água contaminada por matéria fecal, a moléstia ceifou dezenas de milhares de vidas, principalmente de crianças, no período. A partir do século XVIII, com o aparecimento das primeiras empresas de fornecimento de água para residências, o processo de filtragem do líquido tornou-se procedimento regular na Europa. Ao longo do século XIX a captação, preparação e distribuição de água tornam-se mais comuns, aliando as novas descobertas na área da medicina – entre outras a descoberta do vibrião da cólera por Koch e os conceitos da microbiologia desenvolvidos por Pasteur – disseminando-se pelas mais importantes cidades da Europa e dos Estados Unidos. Foi somente no início do século XX que os serviços de tratamento de água se popularizaram – pelo menos nos países mais desenvolvidos.


No Brasil as primeiras estações de captação e tratamento de água surgiram no final do século XIX e início do século XX, começando pelas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Por volta de 1930 todas as capitais brasileiras possuíam sistemas de tratamento de água. Estes, se não atendiam toda a população, pelo menos forneciam água tratada para as regiões centrais e bairros mais antigos. A partir da década de 1940, com o aumento do êxodo rural e o crescimento da demanda por saneamento, surgem as primeiras empresas públicas e autarquias de serviços de tratamento da água. O setor de saneamento – especificamente o tratamento de água – tem um grande impulso a partir do início da década de 1970 com a implantação do Plano Nacional de Saneamento – Planasa. O plano criou as companhias estaduais de saneamento, obrigou os estados a investirem no setor e estabeleceu linhas de crédito com base em recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). A década de 1980, também para o setor de saneamento, foi de relativa estagnação, dado o alto endividamento do Estado e as elevadas taxas de inflação. A retomada dos investimentos e a ampliação da infraestrutura do setor só ocorrem a partir da estabilização da economia em 1994, com um aumento dos recursos principalmente com a criação do Plano de Aceleração do Crescimento, em 2007. No entanto mesmo com a criação do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), criado pelo Ministério das Cidades em 2012, e que prevê investimentos de R$ 270 bilhões até 2030, as perspectivas para o setor ainda são incertas.       
Atualmente, 81% da população do País, cerca de 157 milhões de pessoas, têm abastecimento de água tratada. Os 37 milhões que não são atendidos em suas necessidades básicas de água habitam principalmente a região Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste. Além de deixar de suprir parte considerável da população com água tratada, em média 38% do volume de água tratada são perdidos no sistema de distribuição. Isto sem mencionar que somente 47% do esgoto sanitário são coletados e apenas 38% deste volume coletado é tratado – o que quer dizer que meros 18% do volume total do esgoto gerado no Brasil são tratados.

Outro aspecto é quanto à qualidade da água tratada. Segundo dados do Ministério da Saúde, apenas 67% das cidades estão preparados para fiscalizar e avaliar a qualidade da água que sua população consome. Não havendo fiscalização constante, não se conhece a situação da água nas fontes de fornecimento (lagos, rios, nascentes), no tratamento e nem no produto final, distribuído aos consumidores. O problema é grave e já na década de 1960 as autoridades de saúde dos Estados Unidos chegaram à conclusão de que não somente a cor e a presença de patógenos ou produtos químicos deveriam ser os únicos parâmetros na aferição da qualidade da água. Nessa época já havia uma série de novos produtos químicos e farmacêuticos, que chegando às fontes de fornecimento acabavam poluindo as águas e não eram eliminados nos sistema de tratamento – mesmo com tecnologias de adsorção em filtros de carvão ativado. Hoje o número de substâncias químicas de todo o tipo, que por vária maneiras chegam às fontes de captação da água para consumo são bem maiores. Em pesquisa realizada pelo Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com a água consumida na Região Metropolitana da Região de Campinas, foi constatada forte presença de interferentes endócrinos, substâncias que se ingeridas por longos períodos podem interferir no funcionamento das glândulas. Durante o período de pesquisa foram encontrados diversos tipos de hormônios e de esteróides derivados do colesterol, produtos de origem farmacêutica e industrial. As concentrações identificadas são em alguns casos mil vezes mais altas do que em países da Europa. Estas substâncias são relacionadas com o aparecimento de diversos tipos de câncer e não são eliminadas pelos sistemas convencionais de tratamento de água em funcionamento no País, segundo especialistas. Mas informações sobre o assunto estão emhttp://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/dezembro2006/ju346pag03.html.
O tratamento da água com adição de cloro é bastante eficiente em um país onde grande parte das fontes de fornecimento já está contaminada por efluentes domésticos. Isto porque, grandes volumes de efluentes não tratados são descarregados nos rios e lagos, que por sua vez também fornecem água para consumo humano. Assim forma-se o círculo vicioso: a baixa qualidade da água captada faz com que o tratamento se torne cada vez mais caro; e a descarga dos efluentes torna as fontes de fornecimento cada vez mais poluídas, encarecendo seu tratamento para consumo humano. Desta forma sobram poucos recursos para tecnologias de tratamento da água mais avançadas que o cloro ou dióxido de cloro, desinfetantes que não são unanimidade entre os especialistas. Descobriu-se, por exemplo, que certos patógenos de água potável são resistentes ao cloro e podem causar doenças como a hepatite, gastrenterite, criptosporidiose e Mal do Legionário. Nos Estados Unidos, menos de 60% da água para consumo humano têm adição de cloro; e em níveis mais baixos que no Brasil – 4 PPM (parte por milhão) contra cinco PPM no Brasil. Na Alemanha e Holanda o elemento só é utilizado em alguns casos, já que as fontes de fornecimento são protegidas e controladas, proporcionando a captação de água de alta qualidade, com pouca necessidade de tratamento. Pesquisas indicam que a exposição prolongada ao cloro pode ocasionar câncer de bexiga, do aparelho digestivo e de mama, devido à tendência do cloro de interagir com compostos orgânicos na água, formando trialometanos (THM) e ácidos haloacéticos (HAA5).
O Brasil ainda está engatinhando no que se refere ao tratamento e distribuição de água potável. Em uma primeira fase é preciso atingir algo em torno de 95% de água tratada – mais do que isto é utópico para um país com as dimensões do nosso. Mesmo o sistema alemão, eficiente e descentralizado (operado por cerca de 6.000 empresas concessionárias) não chega a atender 100% da população. Quando alcançaremos esta marca de pessoas abastecidas com água tratada é difícil estimar; talvez em 10-20 anos, dependendo de fatores econômicos e sociais. Em uma segunda fase provavelmente seriam implantados sistemas de avaliação e fiscalização das fontes de fornecimento. Para que esta providência seja efetiva, terão que ser reduzidos ou eliminados os níveis de poluição por efluentes domésticos de rios e lagos, que funcionam como fonte de captação de água para consumo. Em uma terceira fase poderiam ser implantados sistemas mais eficientes de tratamento – já em uso em algumas poucas unidades de tratamento – como sistemas de ozonização (O³) e tratamento com raios ultravioleta (UV), que eliminariam a prática da cloração da água. Esta solução provavelmente não será aplicada a todas as unidades de tratamento do país, já que fatores econômicos e características regionais poderão requerer outras tecnologias. Outra possibilidade, possivelmente a mais provável, é que os avanços técnicos citados acima ocorram de maneira diversa, em ritmos de implantação diferentes, nas variadas regiões do País. 
(Imagens: fotografias de David Seymour)
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(Imagens: fotografias de David Seymour)

domingo, 28 de abril de 2013

Mania de carrão Leia coluna da filósofa Marcia Tiburi: Nas ruas enfartadas, o capitalista motorizado ostenta seu poder TAGS: coluna, Marcia Tiburi, Opinião MARCIA TIBURI O automóvel é para poucos um meio de transporte. Produto para a indústria e o mercado, ele deve surgir como fetiche na consciência coisificada dos usuários. É dessa coisificação que depende o sucesso das vendas e o aumento da produção. O aumento da produção gera emprego, dirão uns, gera capital, dirão outros. Que o carro seja central na economia política de uma sociedade marcada pelo descaso com o transporte público explica a supremacia do privado, o poder do dinheiro em detrimento da cidadania. O núcleo bárbaro de nosso estado social refere-se também ao declínio do espaço público ocupado pelos carros em uma sociedade motorizada quando já não há por onde seguir. É evidente que o espaço social da rua, este espaço desvalorizado onde vivem excluídos e marginalizados, moradores sem casa, se tornaria o lugar onde o capitalista motorizado ostentaria seu poder automobilizado. O motorista realiza a ideia de que a racionalidade técnica é a racionalidade da dominação por meio de sua máquina impressionante. Andar a pé, uma prática totalmente antitecnológica, tornou-se um perigo, cujo risco é deixado ao despossuído. A posse é o espaço a ser percorrido. Os carros nas grandes cidades congestionadas surgem como marcadores de lugar: quem pode mais ocupa mais espaço em relação a quem pode menos. Assim é que a sociologia do trânsito de nossa época tem que se ocupar não apenas com a divisão do espaço, mas com a tradicional avareza do capitalismo aplicada ao movimento nas grandes cidades. Não se trata mais do simples direito de cada um à cova medida; o movimento lento dos carros nas ruas enfartadas lembra o funeral em que todos estão a caminho de um grande enterro. Fetiche automobilístico O carro faz parte da mitologia cotidiana. Ayrton Senna foi o deus maior sacrificado no ritual do automobilismo, ritual do qual participam as massas encantadas com seus brinquedinhos mais baratos. Mas para entender o fenômeno do fetiche automobilístico de nossos tempos podemos pensar algo ainda mais elementar: quem compra um carro nunca compra apenas um carro, compra a ideia vendida pela propaganda do carro. A ideia é sempre a mesma, compra-se um poder. Com o poder na forma de um carro, o motorista pode transitar pela rua. Um carro permite a ostentação fundamental que se tornou meio de sobrevivência em uma sociedade competitiva na qual, mesmo não sendo um vencedor, sempre se pode parecer um. A ostentação é parte essencial do sistema simbólico em que o reconhecimento deturpado diz quem somos e o que podemos ser dependendo do que possuímos. Do mesmo modo que o menino rico ganha um carro dos pais assim que aprende a dirigir não porque o carro seja necessário, mas porque é sinônimo do tornar-se adulto ou pelo menos do parecer adulto, o menino pobre que trabalha como empacotador no supermercado economiza dinheiro para comprar um carro porque, também ele, entende que é o carro que o torna alguém numa sociedade de pilotos. Assim, ele não questiona seu trabalho escravizado, pois pode chegar ao fim da corrida alcançando o bem desejado por todos os que, na qualidade de vencedores ou vencidos, não se colocam a questão de parar a corrida. Assim é que entendemos o caráter de máscara dos automóveis. A questão de ser quem se é define-se no meio de transporte que se usa. Da bicicleta ao carro blindado, do ônibus que sai da periferia à Ferrari, cada um é reduzido ao transporte que usa. Quem não tem carro, pois ele está ao alcance de todos independemente dos sacrifícios implicados em sua aquisição e manutenção, pratica um ateísmo. O dono do carrão expõe, como um exibicionista expõe seu sexo, uma verdade teológica.


Mania de carrão

Leia coluna da filósofa Marcia Tiburi: Nas ruas enfartadas, o capitalista motorizado ostenta seu poder
MARCIA TIBURI
O automóvel é para poucos um meio de transporte. Produto para a indústria e o mercado, ele deve surgir como fetiche na consciência coisificada dos usuários. É dessa coisificação que depende o sucesso das vendas e o aumento da produção. O aumento da produção gera emprego, dirão uns, gera capital, dirão outros. Que o carro seja central na economia política de uma sociedade marcada pelo descaso com o transporte público explica a supremacia do privado, o poder do dinheiro em detrimento da cidadania. O núcleo bárbaro de nosso estado social refere-se também ao declínio do espaço público ocupado pelos carros em uma sociedade motorizada quando já não há por onde seguir.
É evidente que o espaço social da rua, este espaço desvalorizado onde vivem excluídos e marginalizados, moradores sem casa, se tornaria o lugar onde o capitalista motorizado ostentaria seu poder automobilizado. O motorista realiza a ideia de que a racionalidade técnica é a racionalidade da dominação por meio de sua máquina impressionante. Andar a pé, uma prática totalmente antitecnológica, tornou-se um perigo, cujo risco é deixado ao despossuído. A posse é o espaço a ser percorrido. Os carros nas grandes cidades congestionadas surgem como marcadores de lugar: quem pode mais ocupa mais espaço em relação a quem pode menos. Assim é que a sociologia do trânsito de nossa época tem que se ocupar não apenas com a divisão do espaço, mas com a tradicional avareza do capitalismo aplicada ao movimento nas grandes cidades. Não se trata mais do simples direito de cada um à cova medida; o movimento lento dos carros nas ruas enfartadas lembra o funeral em que todos estão a caminho de um grande enterro.
Fetiche automobilístico
O carro faz parte da mitologia cotidiana. Ayrton Senna foi o deus maior sacrificado no ritual do automobilismo, ritual do qual participam as massas encantadas com seus brinquedinhos mais baratos.
Mas para entender o fenômeno do fetiche automobilístico de nossos tempos podemos pensar algo ainda mais elementar: quem compra um carro nunca compra apenas um carro, compra a ideia vendida pela propaganda do carro. A ideia é sempre a mesma, compra-se um poder. Com o poder na forma de um carro, o motorista pode transitar pela rua.
Um carro permite a ostentação fundamental que se tornou meio de sobrevivência em uma sociedade competitiva na qual, mesmo não sendo um vencedor, sempre se pode parecer um. A ostentação é parte essencial do sistema simbólico em que o reconhecimento deturpado diz quem somos e o que podemos ser dependendo do que possuímos.
Do mesmo modo que o menino rico ganha um carro dos pais assim que aprende a dirigir não porque o carro seja necessário, mas porque é sinônimo do tornar-se adulto ou pelo menos do parecer adulto, o menino pobre que trabalha como empacotador no supermercado economiza dinheiro para comprar um carro porque, também ele, entende que é o carro que o torna alguém numa sociedade de pilotos. Assim, ele não questiona seu trabalho escravizado, pois pode chegar ao fim da corrida alcançando o bem desejado por todos os que, na qualidade de vencedores ou vencidos, não se colocam a questão de parar a corrida.
Assim é que entendemos o caráter de máscara dos automóveis. A questão de ser quem se é define-se no meio de transporte que se usa. Da bicicleta ao carro blindado, do ônibus que sai da periferia à Ferrari, cada um é reduzido ao transporte que usa. Quem não tem carro, pois ele está ao alcance de todos independemente dos sacrifícios implicados em sua aquisição e manutenção, pratica um ateísmo. O dono do carrão expõe, como um exibicionista expõe seu sexo, uma verdade teológica.
    Leia coluna da filósofa Marcia Tiburi: Nas ruas enfartadas, o capitalista motorizado ostenta seu poder
    MARCIA TIBURI
    O automóvel é para poucos um meio de transporte. Produto para a indústria e o mercado, ele deve surgir como fetiche na consciência coisificada dos usuários. É dessa coisificação que depende o sucesso das vendas e o aumento da produção. O aumento da produção gera emprego, dirão uns, gera capital, dirão outros. Que o carro seja central na economia política de uma sociedade marcada pelo descaso com o transporte público explica a supremacia do privado, o poder do dinheiro em detrimento da cidadania. O núcleo bárbaro de nosso estado social refere-se também ao declínio do espaço público ocupado pelos carros em uma sociedade motorizada quando já não há por onde seguir.
    É evidente que o espaço social da rua, este espaço desvalorizado onde vivem excluídos e marginalizados, moradores sem casa, se tornaria o lugar onde o capitalista motorizado ostentaria seu poder automobilizado. O motorista realiza a ideia de que a racionalidade técnica é a racionalidade da dominação por meio de sua máquina impressionante. Andar a pé, uma prática totalmente antitecnológica, tornou-se um perigo, cujo risco é deixado ao despossuído. A posse é o espaço a ser percorrido. Os carros nas grandes cidades congestionadas surgem como marcadores de lugar: quem pode mais ocupa mais espaço em relação a quem pode menos. Assim é que a sociologia do trânsito de nossa época tem que se ocupar não apenas com a divisão do espaço, mas com a tradicional avareza do capitalismo aplicada ao movimento nas grandes cidades. Não se trata mais do simples direito de cada um à cova medida; o movimento lento dos carros nas ruas enfartadas lembra o funeral em que todos estão a caminho de um grande enterro.
    Fetiche automobilístico
    O carro faz parte da mitologia cotidiana. Ayrton Senna foi o deus maior sacrificado no ritual do automobilismo, ritual do qual participam as massas encantadas com seus brinquedinhos mais baratos.
    Mas para entender o fenômeno do fetiche automobilístico de nossos tempos podemos pensar algo ainda mais elementar: quem compra um carro nunca compra apenas um carro, compra a ideia vendida pela propaganda do carro. A ideia é sempre a mesma, compra-se um poder. Com o poder na forma de um carro, o motorista pode transitar pela rua.
    Um carro permite a ostentação fundamental que se tornou meio de sobrevivência em uma sociedade competitiva na qual, mesmo não sendo um vencedor, sempre se pode parecer um. A ostentação é parte essencial do sistema simbólico em que o reconhecimento deturpado diz quem somos e o que podemos ser dependendo do que possuímos.
    Do mesmo modo que o menino rico ganha um carro dos pais assim que aprende a dirigir não porque o carro seja necessário, mas porque é sinônimo do tornar-se adulto ou pelo menos do parecer adulto, o menino pobre que trabalha como empacotador no supermercado economiza dinheiro para comprar um carro porque, também ele, entende que é o carro que o torna alguém numa sociedade de pilotos. Assim, ele não questiona seu trabalho escravizado, pois pode chegar ao fim da corrida alcançando o bem desejado por todos os que, na qualidade de vencedores ou vencidos, não se colocam a questão de parar a corrida.
    Assim é que entendemos o caráter de máscara dos automóveis. A questão de ser quem se é define-se no meio de transporte que se usa. Da bicicleta ao carro blindado, do ônibus que sai da periferia à Ferrari, cada um é reduzido ao transporte que usa. Quem não tem carro, pois ele está ao alcance de todos independemente dos sacrifícios implicados em sua aquisição e manutenção, pratica um ateísmo. O dono do carrão expõe, como um exibicionista expõe seu sexo, uma verdade teológica.

    TEXTO DO CARRO


    http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2012/12/era-do-automovel-empacou.html

      Entrevistas marcantes: Habermas e a modernidade


      JuremirMachado da Silva*

      O holofote da racionalidade 

      Nascido em 1929, o amigo e colaborador de Theodor Adorno esteve em Porto Alegre em setembro de 1989. Professor em Heidelberg de 1961 a 1964, depois em Frankfurt, em 1971 tornou-se diretor do importante Instituto Max Planck, empenhado em uma pesquisa multidisciplinar da realidade social contemporânea. Em 1973, recebeu o prêmio Hegel, em Sttutgart, uma das mais importantes honrarias intelectuais da Alemanha. Em 1980, foi agraciado com o prêmio Theodor Adorno, em Frankfurt. Tornou-se um pensador de primeira linha e destacou-se pela abrangência de seus conhecimentos, retirando densas contribuições da ciência política, sociologia, filosofia, psicologia e história, entre outras áreas. Defensor radical da razão, travou luta contra os irracionalismos e sustentou a existência de uma falácia no pós-moderno. Em 1981, publicou A Teoria da Ação Comunicativa, vasta e complexa obra, que continua exigindo poderosos esforços para sua total decodificação. Aos poucos, tornou-se o nome de maior evidência no terreno intelectual europeu. No mesmo ano em que veio ao Brasil, Habermas visitou outros países da América Latina. No México, atraiu milhares de pessoas. Na Argentina, os salões superlotaram. E tudo isso para ver e ouvir um pensador dificílimo, cuja importância pode ser constatada por esta entrevista, concedida em Porto Alegre. 

      JMS – A crise do Estado do Bem Estar Social, o crescimento das taxas de desemprego na Europa e a investida neoconservadora atual no sentido de diminuir as prerrogativas estatais indicam um colapso iminente do capitalismo como anunciam alguns setores da esquerda? Ao mesmo tempo, os acontecimentos na China, Polônia e Alemanha Oriental e até mesmo a glasnost soviética apontam para uma derrocada ou morte do marxismo ? Diante disso não haveria um impasse e um esgotamento absoluto das energias ut6picas 

      Habermas – Esta é uma pergunta de muita amplitude. Falar do colapso do capitalismo, creio, hoje, ninguém mais sustenta. Do ponto de vista dos países ocidentais desenvolvidos, eu diria que a perspectiva é bem diferente do processo de dissolução do sistema político soviético. O capitalismo hoje parece não contar com nenhuma a alternativa como antigamente. Essas pelo menos são as posições neoliberais e neoconservadoras. Essas interpretações são perigosas e paralisam as poucas energias reformistas com as quais contamos. No início da minha viagem, um secretário de Estado norte-americano, em matéria publicada no New York Times, interpretou o conceito da pós-história nesse sentido, ou seja, de que agora as formas de vida e socialidade, assim como estão estabelecidas, impuseram-se definitivamente e não contam com nenhuma forma concorrente. Nesta situação, é naturalmente importante lembrar-se de que o capitalismo dos países altamente desenvolvidos somente se tomou razoavelmente suportável pelo fato das nossas sociedades terem dado um passo histórico em um processo de aprendizagem. Refiro-me com isso à realização do Estado do Bem Estar Social depois da Segunda Guerra Mundial. Essa evolução parece ter chegado a um termo. De sorte que é necessário promover um esforço adicional com vistas a reformas, em relação à vinculação entre o Primeiro Mundo e o Terceiro Mundo. Os problemas são tão complexos que estamos a ponto de desesperar da possibilidade de encontràr uma saída com as nossas próprias forças. A idéia de uma ausência de perspectiva é particularmente desastrosa. 

      JMS – Uma prática social baseada em sua teoria da ação comunicativa é possível no Terceiro Mundo? Que base haveria para que se realizasse um consenso a partir de um jogo argumentativo ? Para o senhor, que disse a Perry Andersen, em entrevista, que sua perspectiva é eurocêntrica, que sentido faz umafilosofia social que expurga uma enorme parcela da população mundial?
      Habermas –  Em relação ao eurocentrismo quero dizer que efetivamente a Perry Andersen manifestei a realidade pessoal do meu interesse pelo Terceiro Mundo, que está baseada apenas em leitura de jornais e como homem contemporâneo. Não me debrucei sobre os problemas como cientista. Seria absurdo afirmar que uma teoria que somente espelha a perspectiva dos países desenvolvidos seria suficiente para enfocar as questões mais candentes do mercado mundial. Trata-se de uma limitação dos meus próprios interesses. Não chego à América Latina como um especialista em seus problemas. Meu conceito de ação comunicativa não se trata de um rousseauismo, de um utopismo e nada tem a ver com otimismo ou pessimismo. Trabalho com as bases da nossa comunicação cotidiana. Tento esclarecer pontos que não foram suficientemente explicados na tradição marxista nem na teoria crítica da sociedade. Viso estabelecer um fundamento normativo que permita o exercício da crítica, sem o qual ele seria impossível. Marx operou com premissas procedentes da filosofia da História, que hoje não podemos aceitar sem mais nem menos. Busco as premissas dessa comunicação enquanto não se parte para o recurso da violência, manifesta ou camuflada. À medida que nos interessamos por fagulhas de racionalidade, que estão na própria comunicação, não estamos afirmando o governo da razão, mas estamos obtendo uma medida que nos permite analisar criticamente a realidade. No Rio de Janeiro, nenhuma criança chega à vida adulta sem que a mãe dê a ela determinadas condições e sem uma família em que ela cresça, e em meio aos vizinhos. Nessa família e com esses vizinhos existe o agir comunicativo. Do contrário, a criança não chegaria a completar um ano de idade. Isso independe de passar fome ou não. A outra verdade é que não há miséria só nessas favelas. Mas também em Nova Iorque e outras partes do Primeiro Mundo. A violação dos direitos humanos faz parte do cotidiano nas sociedades desenvolvidas. A minha abordagem teórica não é uma visão otimista da vida boa, mas um instrumento de investigação. 

      JMS – O senhor tem recusado as teses sobre o esgotamento da modernidade e aproximou os pós-estruturalistas franceses do neoconservadorismo. Entretanto há intelectuais que o consideram conservador por insistir em pensar a pós-modernidade com os parâmetros da modemidade. O fil6sofo brasileiro José Guilherme Merquior afirma que a sua divisão da razão em “razão sábia” e “razão instrumental” é insustentável e geral, uma noção de razão para situações nobres e outra para tarefas simples. O senhor tenta relativizar a razão da Ilustração e depois reintroduzi-la como princípio unificador e totalizador da realidade ?
      Habermas – Vamos discutir este tema na sexta-feira (na palestra sobre “A Questão da Racionalidade na Pós-Modernidade”, realizada no Salão de Atos da UFRGS). É difícil discuti-lo em duas palavras. Há muitas opiniões embutidas nessa pergunta que não posso aceitar. A aproximação do neoconservadorismo e do pós-estruturalismo francês (feita por Andersen) é uma distorção do que escrevi em meu livro O Discurso Filosófico da Modernidade. Uns me chamavam de conservador e outros de jovem conservador. Sabe o que é ser um jovem conservador? Quem sabe abandonamos este tema? Não proponho nenhuma mudança de paradigmas. A teoria do agir comunicativo sai de uma razão centrada no próprio sujeito e articula-se em estruturas da comunicação cotidiana e nas posturas de reconhecimento recíproco. Essa razão comunicativa não consiste de várias partes, mas ela tem diversos aspectos, o que podemos reconhecer quando analisamos uma expressão como “Me dê um copo de água?”. Você pode contestar essa expressão a partir de três pontos: 1) Nesse copo não há água, mas álcool; 2) Esta não é a ocasião para solicitar de mim uma prestação de serviço; 3) Pode ainda duvidar da veracidade da articulação da expressão. Como se vê, são formuladas três pretensões de validade. A razão comunicativa, apesar de seus aspectos diferentes, forma uma certa unidade. Não vejo uma oposição entre razão instrumental e meta-razão. Não posso aceitar a premissa de que a razão comunicativa introduz no jogo uma força que unifica e totaliza. Essa é uma peça polêmica pós-estruturalista. A razão é uma força de pluralização. A medida que isso exista há a possibilidade de um consenso, que se situa sobre o fato de que os participantes desistem de dizer não. O conceito de inter-relação por meio de linguagem representa o contrário de uma totalidade unificadora. Diferencio o meu conceito de comunicação da Vontade Geral de Rousseau e da razão em Hegel. 

      JMS – Na prática, como controlar a robotização da vida -da subjetividade, afetividade e relações interpessoais -e o massacre da técnica pela esfera instrumental ?
      Habermas – Nada posso dizer de original. Responderei de forma adicional. As sociedades precisam organizar-se a partir de baixo, da base. Temos que trabalhar no sentido de que também em sociedades complexas exista uma opinião pública que funcione nas discussões sobre política. Existe uma certa esperança de que aquilo que os homens efetivamente desejam realize-se, diante daquilo que é racional apenas na aparência. Todas as outras respostas teriam que ser muito mais concretas e passar por uma análise do contexto social. Só posso falar da República Federal da Alemanha. 

      JMS – Como o senhor encara as micropráticas, a hist6ria do cotidiano, os movimentos de minorias, a ecologia e as múltiplas racionalidades ao final da década de 80? São apenas visões, como querem alguns ideólogos, da entediada classe média europeia transportados para o Terceiro Mundo enquanto ideias fora de lugar?
      Habermas – Não vejo por que essas ideias estariam fora de lugar, afinal, aqui no Brasil não ocorre desmatamento? 

      JMS – Respondo com uma pergunta. Outro dia, o antropó1ogo brasileiro Darcy Ribeiro, um dos intelectuais nacionais mais conhecidos no mundo, afirmou que a ênfase da ecologia é uma consequência dos anseios da pequena burguesia europeia voltada para os seus jardinzinhos. Neste sentido, as idéias poderiam estar fora do lugar…
      Habermas – Não vou falar sobre o que acontece com as ideias europeias transplantadas para o Brasil. Aquilo que sensibiliza a opinião pública no Primeiro Mundo pode ter alguma relevância para o Terceiro Mundo. Há uma sensibilidade crescente nos países desenvolvidos em relação aos problemas que necessitam ser resolvidos aqui. O problema, em princípio, consiste em que as nações dependentes não possuem nenhum potencial de ameaça que convença os desenvolvidos a tomar determinadas medidas. Em uma comparação com o final do século XIX talvez possa dizer que não há nenhum equivalente para a greve de operários. Não sei como o Terceiro Mundo poderia entrar em greve diante do Primeiro. Seria importante que os terceiro-mundistas usassem melhor a força produtiva contida numa associação dos povos, o que infelizmente não acontece. É preciso entrar no repertório das ideias que sensibilizam os europeus e os norte-americanos. Os novos movimentos sociais representam uma das poucas esperanças orientados em temas que têm componentes universais. 

      JMS – O senhor acredita que os movimentos estudantis da década de 80 estão na defensiva. Isso significa uma despolitização, um desencantamento e uma necessidade de reorganização para retomar uma prática participativa dos anos 60? Não é contradição sustentar uma teoria de comunicação participativa em uma época em que não são poucas as vozes a anunciar a desarticulação, o fim das utopias e a descrença em qualquer totalidade ou princ(pio unificador?
      Habermas – Não temos nenhum movimento estudantil atuante na Europa. Desde alguns anos, formou-se um movimento social centrado na questão do desarmamento mundial, o que, felizmente, com Gorbachev está encontrando uma solução, e questões de feminismo e ecologia. Os temas novos ganharam incrível repercussão. Surgiu um novo partido que mudou o enfoque das temáticas discutidas. Eu não compartilho das posições enunciadas a respeito da individualização. Em termos eleitorais, o individualismo produziu um novo comportamento eleitoral em sentido claramente positivo. Assim, os compromissos de grandes estruturas partidárias, vinculando os eleitores de uma forma não crítica tomou-se mais frouxa. Além disso, houve um enriquecimento do debate pela substância argumentativa. Os novos movimentos não processaram enormes mudanças institucionais, mas fizeram deslanchar processos importantes, favoráveis às subculturas. Mesmo se fosse diferente, a minha abordagem não depende dessa situação. Afora isso, é fundamental um holofote que ilumine a falta de racionalidade frequentemente encontrada. 

      Setembro de 1989
      (republicada em meu livro “O pensamento do fim do século”(L&PM)
      ----------------
      * Soiciólogo. Prof. Universtário. Escritor. Tradutor. Colunista do Correio do Povo
      Fonte:  http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/28/04/2013

      Prova de redação da GV São Paulo. 2013

      http://www.cpv.com.br/vestibulares/fgv-dir/2013/provas/prova_fgvdir_2013_f1_redacao.pdf

      Prova de Artes e Filosofia da Uel. Convém ler.

      http://www.cops.uel.br/vestibular/2011/provas/P1.pdf

      Faça a prova de Língua Portuguesa da UEL. Mande p mim.

      http://www.cops.uel.br/vestibular/2011/provas/P16.pdf

      sábado, 27 de abril de 2013

      Prova de redação da UFBA

      http://www.vestibular.ufba.br/docs/vest2008/provas/2fase/redacao.pdf

      jovem de 17 anos diz como aprendeu 23 línguas ( proposta de narração)


      jovem de 17 anos diz como aprendeu 23 línguas
      O americano Timothy Doner adotou o hobby de aprender idiomas e se tornou um hiperpoliglota
      ANGELA PINHO
      FALA, TIM!
      O estudante Timothy Doner. Ele dedica suas férias e os fins de semana a aprender idiomas (Foto: Emily Berl/The New York Times)
      Nas ruas de Nova York, é possível ouvir alguém cantando em hebraico, falando híndi ou pedindo uma comida em farsi. É possível que tudo isso esteja sendo feito por uma pessoa só, o estudante Timothy Doner. Aos 17 anos, ele tornou-se sucesso na internet devido à capacidade de aprender idiomas. Muitos. Praticamente sozinho. Afirma que já fala 23, incluindo sua língua materna, o inglês, e promete mais.

      Tim, como gosta de ser chamado, resolveu virar poliglota por hobby. Começou quando estudava para seu bar mitzvah, cerimônia que, na tradição judaica, marca a maioridade dos meninos, aos 13 anos. Durante a preparação, aprendeu algumas palavras em hebraico e resolveu continuar os estudos com o mesmo professor. Pegou gosto. Durante as férias, decidiu estudar árabe numa universidade. Com base no novo conhecimento, aprendeu outras línguas do Oriente Médio. Estendeu seus conhecimentos ao sul-asiático e à África. A partir do francês, que aprendeu na escola, passou a outras línguas latinas.
      Para se tornar um hiperpoliglota, Tim diz passar praticamente todos os dias de suas férias e os fins de semana estudando de diversas maneiras, que incluem a combinação de diferentes métodos. Para algumas línguas, preferiu engajar-se em aulas de idioma. No caso de outras, apenas mergulhou em livros didáticos. Para praticar a fluência, conta que se beneficiou do caráter multicultural de Nova York, onde vive com os pais. Um de seus passatempos é ir a Chinatown, o bairro chinês, praticar mandarim com os moradores. Tirou também proveito da internet. Há dois anos, seguindo o exemplo do também poliglota Richard Simcott, passou a publicar pequenos vídeos no YouTube falando em diferentes idiomas. Ao final deles, perguntava: “O que vocês acharam da minha pronúncia?”. As respostas o ajudavam a melhorar ainda mais o que já parecia muito bom.

      Tim não tem o mesmo nível de conhecimento para todas as línguas – algumas ele fala melhor, outras escreve, outras apenas lê. Sua desenvoltura impressiona quem assiste aos vídeos. “Daqui a dois anos, você poderá ter seu próprio programa na Al Jazeera”, disse um dos primeiros a comentar o vídeo de Tim falando em árabe, postado quando tinha 15 anos. “Você fala melhor que eu!”, afirmou uma afegã sobre o vídeo em que ele fala pachto, uma das principais línguas do Afeganistão. A partir dos amigos conectados à internet, trocou contatos e passou a praticar idiomas com gente do mundo todo por meio do programa de comunicação Skype. Num único dia, chega a falar até dez idiomas. Seu vídeo mais acessado, em que exibe sua fluência em 20 línguas durante 15 minutos, já foi visto por mais de 1,2 milhão de pessoas (assista ao vídeo). Apesar da fama, Tim rejeita o rótulo de superdotado. “Sou um bom aluno, mas diria que provavelmente sou mediano em todo o resto”, afirmou numa entrevista. É também modesto. Além de pedir opiniões sobre sua pronúncia, em seus vídeos diz coisas como: “No mês passado, comecei a ler em pachto, e não é tão difícil!”. Acha graça de seus amigos que dizem que seu hebraico tem sotaque francês – e vice-versa.
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      Tim pertence a um grupo de pessoas chamadas de hiperpoliglotas. Pesquisas recentes na área de neurologia descartam uma explicação única para tamanha habilidade. Parte dessa capacidade pode ser do próprio indivíduo – especialistas consideram haver algo de excepcional na facilidade e na agilidade com que Tim aprende línguas. Parte, entretanto, pode ser adquirida.

      Aprender uma segunda língua ainda criança ajuda bastante. Alguns hábitos podem ajudar qualquer um a se lançar à tarefa. Em seus vídeos, Tim ensina alguns: não se estressar; não procurar cada palavra no dicionário; ler um pouco na língua estrangeira diariamente, mesmo que apenas um artigo da Wikipédia; misturar métodos até encontrar o mais adequado; tentar falar e ouvir o máximo em músicas, vídeos, novelas e pela internet. Para incentivar o diálogo dentro da rede, Tim estrelou com outros poliglotas o vídeo Skype me maybe, paródia do sucesso Call me maybe, de Carly Rae Jepsen. Ele não se cansa de novos desafios. Em sua coleção, Tim tem um livro sobre português do Brasil. Em breve, deverá falar como um brasileiro.