domingo, 15 de setembro de 2013

Internet levará à distopia ou a uma cultura mais forte, diz fundador do WikiLeaks

PROPOSTA MELHOR EXPLICADA( CALMA , FAÇO MAIS TARDE)

ANTES DE TUDO VAMOS SABER O QUE É DISTOPIA

http://literaturaeeu.blogspot.com.br/2013/01/genero-literario-distopia.html

fONTE, FOLHA DE SP



NELSON DE SÁ
DE SÃO PAULO

Ouvir o texto
Entre a prisão domiciliar e o asilo na embaixada do Equador, Julian Assange, 42, está confinado há dois anos e nove meses no Reino Unido.
Mas o fundador e editor-chefe do WikiLeaks (site conhecido por publicar documentos sigilosos) não se lamenta, em entrevista por telefone à Folha. Lista o que tem de importante para fazer, como editar novo vazamento e manter o apoio a Edward Snowden, ex-analista da CIA que revelou a espionagem em curso do governo dos EUA.
Participa nesta quarta, por vídeo, de um debate sobre vigilância digital no Centro Cultural São Paulo. Deve falar de Além de Snowden, dele próprio e dos colegas Glenn Greenwald e Laura Poitras, acrescenta um nome à lista dos exilados da "distopia": Sarah Harrison, jornalista do WikiLeaks que não pode mais voltar ao Reino Unido.
Ele critica Dilma Rousseff por negar o asilo que o WikiLeaks pediu para Snowden. "Sob Lula, o Ministério das Relações Exteriores era bastante independente. Não ter [concedido asilo] sugere que a posição da presidente é fraca." A seguir, leia alguns trechos da entrevista.
Leon Neal - 6.dez.12/AFP
Assange na embaixada do Equador em Londres
Assange na embaixada do Equador em Londres
*
Folha - O livro soa premonitório quando foca o acesso do governo dos EUA às comunicações latino-americanas, através de fibra ótica. Snowden, depois, comprovou o acesso no Brasil.
Julian Assange - Estudo a Agência Nacional de Segurança [dos EUA] há 20 anos. A imagem foi composta de vazamentos, telegramas, inquéritos do Congresso, testemunhos de ex-funcionários. Uma imagem complexa, que precisava ler milhares de coisas. O importante das revelações de Snowden é que alguns documentos tornaram isso claro para as pessoas.
Quando começou sua relação com Snowden? Foi através de Laura Poitras? Ou antes?
Não podemos falar desses contatos, por razões legais. Mas é interessante falar por que não podemos falar. É porque os EUA se engajaram na expansão de seu regime legal para outros países. Estão envolvidos em 67 territórios diferentes, alegando crimes.
Quando é que um governo controla outro país? Quando ele controla o uso da força de coerção. No caso do WikiLeaks, o governo aplica a Lei de Espionagem de 1917 contra jornalistas fora dos EUA.
Chelsea Manning, militar americana acusada de vazar dados sigilosos para o WikiLeaks, acaba de ser absolvida de "ajudar o inimigo", um veredito que o sr. saudou como "vitória tática". Isso também tira parte da ameaça que estava sobre o WikiLeaks?
É uma situação muito séria. Manning foi condenada por cinco acusações de espionagem. A única alegação é de que passou informação para uma organização de mídia, mas mesmo assim foi condenada por espionagem. O governo Obama processou mais casos envolvendo "whistle-blowers" [vazadores] do que todos os anteriores juntos, voltando até o século 19.
Qual é a situação, agora?
A maior investigação jamais feita de um publisher, o WikiLeaks, prossegue nos EUA. Recebi asilo do Equador. Snowden recebeu asilo, com nossa assistência, na Rússia. Laura Poitras, a documentarista de Nova York associada com Snowden e conosco, está em autoexílio na Alemanha. Greenwald, do "Guardian", está em auto-exílio no Brasil e não pode ir com segurança para os EUA.
E uma de nossas jornalistas, Sarah Harrison, que viajou com Snowden a Moscou e auxiliou o processo formal de asilo, agora está em auto-exílio, porque nossos advogados instruíram que seria perigoso voltar ao Reino Unido. É resultado da detenção de David Miranda [namorado brasileiro de Greenwald].
O Ocidente anglo-saxão está em colapso no que concerne ao Estado de Direito. Os institutos do asilo e do exílio estão se tornando importantes novamente. Seria importante ver o Brasil apoiá-los.
Mas o Brasil recusou o pedido de asilo de Snowden.
É muito decepcionante. Mostra a realidade das relações Brasil-EUA, infelizmente. Se você ler os telegramas diplomáticos do WikiLeaks sobre o Brasil, verá que sob Lula o Ministério das Relações Exteriores era bastante independente. É um sinal preocupante sobre a independência brasileira. O Brasil, no que concerne a América Latina, é forte o bastante para fazê-lo [conceder o asilo]. Que não tenha feito sugere que a posição da presidente Dilma é fraca, e ela deveria adotar ações para demonstrar essa força.
Greenwald afirma que o Brasil é o maior alvo dos EUA.
A estatística de um dos programas da NSA mostra que os EUA interceptam mais sobre o Brasil do que sobre qualquer outro país latino-americano, pelo tamanho econômico, número de empresas americanas, contratos de equipamento, petróleo.
Que conselho o sr. daria à presidente Dilma e à Petrobras? Adotarem criptografia, como escreve em "Cypherpunks"?
Sim, eles precisam abraçar criptografia. O problema de comprar equipamento de criptografia para a Petrobras ou a presidente é: você pode confiar no fornecedor? Os EUA são especializados em se infiltrar no chip dos equipamentos criptográficos. O que o país precisa é conseguir o talento brasileiro para suas próprias agências de criptografia, para que desenvolvam tecnologia que seja confiável.
Reprodução
Assange livre', pede grafite no Largo da Batata, em SP
'Assange livre', pede grafite no Largo da Batata, em SP
Greenwald ouviu o mesmo questionamento que o sr., de que não seria jornalista.
Nós previmos isso, assim que saiu a primeira publicação de Glenn, "em 12 horas, espere os ataques, eles vão tentar de tudo". E foi o que fizeram, vasculhando sua personalidade, negócios passados. Os ataques são previsíveis e enfadonhos. Mais revoltante é ver jornalistas americanos tomando parte.
O sr. está em reclusão há quase três anos. Vê alguma brecha nos governos britânico e sueco para que isso termine?
A minha prioridade é que o governo dos EUA abriu investigação contra o WikiLeaks. Na semana passada, entramos com ações na Alemanha e na Suíça. Lenta, mas seguramente, nós estamos saindo da defesa para o ataque.
Como é o seu cotidiano na embaixada? Pode tomar sol? Enfrentou depressão?
Eu refleti sobre essa situação algumas vezes. Mas nós temos publicações históricas chegando, temos uma dezena de processos judiciais, temos nossas responsabilidades em relação a Snowden e protegendo nossas outras pessoas. Isso tudo é tão engajador que, felizmente, não há muito tempo para pensar na minha própria situação.
Tem um filme entrando em cartaz, "O Quinto Poder". Como é a sensação de estar encarcerado e se tornar personagem de Hollywood?
Houve um anterior, "Australia: Underground", um bom filme. Também uma peça sobre Manning, grande peça, do País de Gales. Mas os documentários e filmes hollywoodianos têm um viés. Nesse filme a que você se referiu os atores nos apoiam, mas o roteiro, infelizmente, não.
Tem também o documentário de Poitras [para 2013].
O documentário de Laura será importante, sobre o que está acontecendo com o Ocidente à deriva para um estado de vigilância transnacional. Um dos aspectos é que a NSA e outras não são agências sombrias controlando tudo. É uma distopia pós-moderna em formação onde o sigilo é tão compartimentado e o sistema é tão bizantino que indivíduo nenhum entende. Você tem grandes organizações ao lado de milhares de contratadas. E elas formam um atoleiro, capaz de expandir influência. É difícil achar analogia precisa. É menos xadrez e mais horda mongol.
Seu livro cita uma trajetória alternativa mais positiva.
Há uma tendência importante na direção contrária. O que estamos vendo, com o fracasso da intenção de erguer um ataque à Síria, com as revelações, é o desenvolvimento de um novo corpo político internacional, de um novo consenso, de um novo "demos" [povo como unidade política].
Se a internet, por um lado, ampliou imensamente o poder dos Estados Unidos como Estado, por outro também produziu uma nova sociedade. É um tempo muito interessante, porque ou vamos derivar para essa distopia ou para esta nova cultura internacional fortalecida, que vai fornecer uma força prática e política de equilíbrio.
CYPHERPUNKS - LIBERDADE E O FUTURO DA INTERNET
AUTOR Julian Assange (com Jacob Appelbaum, Andy Müller-Maguhn e Jérémie Zimmermann)
TRADUÇÃO Cristina Yamagami
EDITORA Boitempo
QUANTO R$ 29 (168 págs.)
...........................................................CONTINUE LENDO

Na ONU, Dilma diz que espionagem viola direitos humanos

 JOANA CUNHA
DE NOVA YORK
GABRIELA MANZINI
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK
Ouvir o texto
Em tom rígido, a presidente Dilma Rousseff levou nesta terça-feira à 68ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, as críticas do país ao governo americano, acusado de espionar inclusive as comunicações pessoais da presidente brasileira.
Na plenária, Dilma qualificou o programa de inteligência dos EUA de "uma grave violação dos direitos humanos e das liberdades civis; de invasão e captura de informações sigilosas relativas a atividades empresariais e, sobretudo, de desrespeito à soberania nacional".
Dilma afirmou que as denúncias causaram "indignação e repúdio" e que foram "ainda mais graves" no Brasil, "pois aparecemos como alvo dessa intrusão". Disse ainda que "governos e sociedades amigos, que buscam consolidar uma parceria efetivamente estratégica, como é o nosso caso, não podem permitir que ações ilegais, recorrentes, tenham curso como se fossem normais".
"Elas são inadmissíveis", completou.
Conforme a brasileira, o Brasil "fez saber ao governo norte-americano nosso protesto, exigindo explicações, desculpas e garantias de que tais procedimentos não se repetirão".
Há uma semana, a presidente cancelou a visita de Estado que faria ao colega Barack Obama em outubro que vem, em Washington, por "falta de apuração" sobre as denúncias de que a inteligência americana espionou as comunicações pessoais da brasileira, além da Petrobras.
Para ela, "imiscuir-se dessa forma na vida de outros países fere o direito internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre elas, sobretudo, entre nações amigas".
Dilma também foi extraordinariamente dura ao rebater frontalmente o argumento americano de que a espionagem visa combater o terrorismo e, portanto, proteger cidadãos não só dos EUA como de todo o mundo.
Para Dilma, o argumento "não se sustenta". "Jamais pode uma soberania firmar-se em detrimento de outra. Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos fundamentais dos cidadãos de outro país."
"O Brasil, senhor presidente [da Assembleia Geral], sabe proteger-se. Repudia, combate e não dá abrigo a grupos terroristas", disse.
O Brasil faz o discurso de abertura da reunião anual desde que o embaixador Oswaldo Aranha iniciou a tradição, em 1947.


Nenhum comentário:

Postar um comentário