quarta-feira, 28 de agosto de 2013

PROPOSTA DISSERTATIVA . O FIM DA ERA DO AUTOMÓVEL.

REDIJA UMA DISSERTAÇÃO ( A TESE DEVERÁ APARECER NO PRIMEIRO PARÁGRAFO. FAÇA ISSO, OU NÃO TERÁ SEU TEXTO CORRIGIDO) QUE RESPONDA: dá pra viver sem carro?

Dá pra viver sem carro?
Tem gente que mora em bairro afastado que não consegue.
Mas faz a experiência. Na maioria dos casos, dá. 
Dá pra organizar a vida fora de congestionamentos, num trem, metrô, ônibus, carona, táxi, a pé, bicicleta.
Fazer as coisas a pé pelo bairro, compras nas vendas vizinhas, trocar a academia para a do bairro, fazer compras em horários alternativos.
Sem contar que, em alguns casos, com faixas exclusivas, vai-se mais rápido de busão.
Faz outra experiência, digo conta: calcula quanto você gasta por ano para ter um  carro.
Vamos lá: preço do automóvel  + licenciamento + seguro obrigatório + IPVA + combustível + manutenção +  seguro.
Depois divide por 365.
Talvez dê para você circular a cidade de táxi, com um motorista particular.
Acontece em São Paulo um fenômeno interessante.
No verão, quando uma tempestade traz caos, alaga ruas, carros, rios transbordam, casas desabam, e as imagens de cidadãos em pânico e do resgate são as estrelas de telejornais noturnos, pode reparar: no dia seguinte, a cidade registra o menos índice de congestionamento do ano.
Sinal de que muitos que estariam de carro nas ruas no dia seguinte preferiram ficar em casa.
Portanto, não era preciso estarem nas ruas.
Um paradoxo que justifica que, apesar de cada ano a situação piorar, São Paulo tem jeito.
Quando estive em BERLIM em 1994, o Partido Verde alemão, uma força política decisiva, administrava a cidade.
O prefeito decidira transformar uma faixa das grandes avenidas em ciclovia.
A da direita era apenas para transporte coletivo, a do meio para bicicletas e a da esquerda para carros.
Berlim é uma cidade plana, tem um dos mais extensos metrôs da Europa, é rodeada por linhas de trem, cortada por rios navegáveis. Poder se dar ao luxo de ignorar os carros.
E São Paulo?
A experiência é relatada por alguns paulistanos que resolveram mudar de hábitos e viver sem automóvel no livro COMO VIVER EM SÃO PAULO SEM CARRO – 2013, que conta a história de 12 cidadãos que descobriram alternativas para fugir do trânsito.
Será lançado amanhã, 29 de agosto, às 19h na Livraria da Vila da Lorena.
Com as presenças de Alexandre Lafer Frankel (idealizador), Leão Serva (texto), Roberta Dabdab (fotos) e Eva Uviedo (ilustrações).

....................................fonte; Estadão

Bob Lutz: “Não haverá mais motoristas”

Um dos homens mais influentes da história do automóvel diz que, em 20 anos, dirigir carros será um lazer, excluído das cidades, como andar a cavalo

MARCELO MOURA
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Por dizer o que pensa, sem rodeios, o administrador suíço Bob Lutz, de 80 anos, 49 dedicados à indústria automobilística, nunca chegou a presidir uma montadora. Por sua capacidade de antecipar os desejos do consumidor de carros, tornou-se vice-presidente de quatro fabricantes. Na BMW, nos anos 1970, ajudou a criar o Série 3, o mais bem-sucedido da marca. Na Ford, foi responsável pelo utilitário Explorer, maior êxito da empresa na década de 1990. Na Chrysler, resgatou o prazer de dirigir os carros americanos, ao lançar, em 1992, o esportivo Viper. Na General Motors, de 2001 a 2010, aposentou a marca Hummer, dos jipes devoradores de gasolina, e criou o híbrido Volt. Para Lutz, os carros estão perdendo apelo para sempre.
CARRO DE PASSEIO Bob Lutz com seu carro favorito para passear, o Cadillac LaSalle 1934. Ele diz que  os carros perderam seu poder de sedução  (Foto: Montalbetti e Campbell/Corbis Outline)
ÉPOCA – Carros particulares são uma espécie em extinção?Bob Lutz – Vender carros novos será um grande negócio por muito tempo em países como China e Índia, onde ainda são realmente necessários. Nos Estados Unidos e em países europeus, é diferente. Onde o transporte público é bom, você pode viver sem carro, se quiser.
ÉPOCA – As pessoas querem viver sem carro?Lutz – Os jovens de hoje cresceram cercados de Porsches, Ferraris, Mercedes e BMWs. Como cresceram tendo tudo isso ao redor, pensam que não há nada de especial neles. É como… a geração do meu pai era muito, muito interessada em estradas de ferro. Os garotos daquele tempo colecionavam figurinhas de trens. Quando meu pai me falava sobre isso, eu dizia: “Oh, trens! Isso é tão ultrapassado! O negócio são carros”. Isso durou muito, mas agora a novidade são os componentes eletrônicos, a realidade virtual, a conectividade.
ÉPOCA – Por que o carro conquistou gerações de jovens?
Lutz – 
Carros permitem interação social. Carro era o meio para ir ao encontro de amigos e levá-los ao cinema. Era um símbolo importante de reconhecimento social. E, mais importante, você podia levar garotas para passear, conversar com elas a sós e engrenar um relacionamento. Carro era um santuário de privacidade para jovens de todos os países. Agora, os jovens têm componentes eletrônicos para mandar textos, fotos e vídeos, uns aos outros. Estão tão constantemente em contato que a necessidade de conexão, antes proporcionada pelo carro, foi suprida. Mesmo o papel de exibir sinais de prestígio, antes representado pelo carro, foi ocupado. Há muito prestígio em ter a última geração do iPad.
"A geração do futuro não verá qualquer valor especial nos carros. Basta olhar para trens e ônibus. Ninguém liga para a aparência deles"
ÉPOCA – Tablets e celulares proporcionam mobilidade, integração e prestígio, mas não proporcionam sensações físicas, como vento no rosto. Gadgets podem ser tão sedutores quanto carros?
Lutz –
 A sedução dos carros não faz mais sentido. O tempo de viagem não depende mais da potência e da estabilidade de um carro, e sim dos limites de velocidade impostos. Um jovem de 18 anos deve se perguntar: “Por que devo comprar um Lamborghini Murciélago, de US$ 300 mil, se ele é tão rápido quanto um Cruze, de US$ 17 mil?”. Como um apaixonado por carros, acho isso deplorável, mas faz muito sentido. Além da imposição de limites de velocidade, o carro perdeu apelo ao ser transformado em vilão como causa do aquecimento global.
ÉPOCA – O carro é o novo cigarro?
Lutz –
 É. Depois dos cigarros, o automóvel se tornou o inimigo público número um. A sociedade entende que já derrotou o fumo, e agora está indo atrás do carro.
ÉPOCA – Como o senhor vê os carros daqui a 20 ou 30 anos?
Lutz –
 Nesse prazo, em países desenvolvidos, veremos carros elétricos, completamente autônomos. Você dirá aonde quer ir e ele irá, sozinho. Ao entrar numa estrada, se integrará a um comboio de outros carros, afastados entre si 1 metro, viajando a cerca de 200 quilômetros por hora. A estrada será um ponto de energia, que recarregará os carros que passam por ela. O motorista poderá ler, dormir, fazer o que quiser. Quando chegar ao destino, bastará descer do carro e mandá-lo estacionar. O carro encontrará uma vaga e fará manobras sozinho. Para ir embora, é só chamar o carro de volta.
ÉPOCA – Qual será o papel do motorista?
Lutz –
 Não haverá mais motoristas no trânsito. Os cavalos costumavam ser o principal meio de transporte, até que foram banidos das ruas pela chegada dos carros. Ainda há uma enorme quantidade deles, mas agora ficam guardados em estábulos. São usados para esporte e lazer. É o que acontecerá com os carros. Nos Estados Unidos, já existem clubes automotivos. Eles compram um terreno imenso, constroem duas ou três pistas, piscina, restaurante, salão de festas e garagens. Você pode deixar seu carro lá, sob cuidados. Em vez de jogar golfe, você pode ir lá, vestir um macacão e dirigir. O futuro do carro será sem motorista, com funcionamento autônomo. O prazer de dirigir, como o conhecemos, será algo para lugares fechados.
ÉPOCA – Por que comprar um carro que anda como um trem?
Lutz – O carro será rápido, ao evitar congestionamentos e usar as estradas com eficiência. Erros e distrações do motorista, que causam acidentes, serão removidos pela tecnologia.
ÉPOCA – Sem poluir o ar ou provocar acidentes de trânsito, o carro deixará de ser um inimigo público?
Lutz –
 Certas pessoas odeiam carros e continuarão assim. Algum dia, um ambientalista dirá: “Certo, os carros não poluem mais o ar nem causam acidentes, mas eles estão matando taaaaantos insetos!”. Diariamente, carros matam centenas de milhares de valiosos insetos, ao bater neles com o para-brisa. Não sabemos os efeitos disso ao meio ambiente ou à economia de países exportadores de frutas. Parece engraçado, mas alguém dirá isso.
ÉPOCA – O carro perderá para sempre, para smartphones e tablets, seu papel de instrumento de liberdade e de expressão pessoal?
Lutz –
 Sim. Essa geração do futuro, que terá carros autônomos, não verá qualquer valor especial nos carros. Basta olhar para trens e ônibus. Ninguém liga para a aparência deles, ninguém quer saber o nome do fabricante, ninguém olha e diz: “Esse é um Mercedes”. Você apenas embarca. Os carros do futuro também serão assim. Nos anos 1950, canetas esferográficas eram um avanço tecnológico. As boas marcas de esferográficas eram muito caras. Hoje isso parece muito estranho. O grande prestígio de ter uma esferográfica de marca... Ninguém liga mais para a marca das canetas. Você pode pegar uma de graça no hotel.
ÉPOCA – Mas carros não são canetas esferográficas. Os carros ditaram a distribuição geográfica de cidades, ditaram padrões de comportamento e tornaram-se um fenômeno cultural. Seu declínio, se de fato ocorrer, deixará um vácuo. O que ocupará seu espaço?
Lutz – 
O espaço será ocupado por realidade virtual e hologramas 3D, criados pela computação. Eles levarão as pessoas a praticamente qualquer lugar. Você poderá viver a experiência de jantar com quatro pessoas, sem nenhuma outra estar ali, porque parecem reais. A necessidade de locomoção real cairá muito. Caminhões continuarão necessários para transportar produtos, mas passar quatro horas na estrada, para visitar alguém, será algo muito menos frequente.
ÉPOCA – Mickey Drexler, conselheiro da Apple, disse que o último plano de Steve Jobs era criar um carro. Como o senhor imagina que seria esse possível “iCar”?
Lutz –
 Não conheço o projeto, então não posso responder. Toda vez que esses caras de eletrônica tentaram se meter com carros, fizeram besteira
FONTE: REVISTA ÉPOCA

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A era do automóvel empacou

Apontado como vilão do trânsito e do meio ambiente, o carro deixou de atrair os jovens como antigamente. A indústria tenta reagir

MARCELO MOURA E ISABELLA AYUB
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FAIXA LIVRE O empresário Tennyson Pinheiro e sua bicicleta, diante do trânsito parado na Avenida Paulista.  Ele desistiu de ter carro  (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA)
O empresário Tennyson Pinheiro, de 35 anos, usava o carro para ir de casa para seu escritório, a 9 quilômetros de distância, em 45 minutos. Achava isso normal, até passar dez dias em Londres, em 2009. “Lá, todo mundo anda de metrô”, diz. “Percebi que tinha uma rede de transporte público razoável em São Paulo, e nem usava.” Pinheiro e sua mulher, que não têm filhos, experimentaram deixar o carro na garagem por um mês. “Gostei tanto que vendi o carro”, afirma. “Pagava caro para mantê-lo, vivia estressado e não me ligava à cidade.” Pinheiro não está sozinho. Uma parcela cada vez maior dos jovens decide viver sem carro. “Há um paradoxo noBrasil”, diz João Cavalcanti, sócio da consultoria de mercado Box 1824. “Nunca se comprou tanto carro, mas, ao mesmo tempo, o desejo por eles está caindo.” De acordo com o consultor Bob Lutz, ex-vice-presidente de BMW, Ford, Chrysler e General Motors, a queda do interesse por automóveis é uma tendência mundial. “A sedução do carro não faz mais sentido”, afirmou a ÉPOCA. “Dirigir será um lazer excluído das cidades, como andar a cavalo.”
O paradoxo do Brasil, onde a venda de automóveis cresce, e as pesquisas de mercado mostram a queda do interesse, se explica pela diversidade do país. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) afirma que a média brasileira de 6,1 habitantes por carro ainda é alta e deverá cair à metade até meados de 2020. O crescimento nas vendas é puxado pela demanda reprimida das regiões Norte e Nordeste. No Sul e no Sudeste, o aumento da frota passou a acompanhar o crescimento da população. Nessas regiões, observa-se a queda de interesse pelos carros. Segundo a Pesquisa Origem e Destino, do Metrô, a relação de carros por habitante em São Paulo manteve-se estável entre 1997 e 2007. Nesse período, o uso de transporte público subiu de 45% para 55%.
O motor da história em quatro tempos (Foto: collections of The Henry Ford and Ford Motor Company, AFP, Rafael Camargo/FUTURAPRESS e Rogério Casimiro/ÉPOCA)
O interesse do consumidor diminui à medida que o automóvel deixa de cumprir sua principal promessa: a mobilidade. Em 2009, a Fundação Dom Cabral publicou um estudo que afirma: o trânsito está à beira do colapso noRio de Janeiro, em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Os momentos de trânsito intenso se prolongam de tal forma que, em 2013, não haverá mais calmaria entre os horários de pico da manhã, da tarde e da noite. Os engarrafamentos tendem a se prolongar e virar uma coisa só.
A imobilidade do automóvel desafia o modelo de moradia importado dos Estados Unidos, que virou sonho da classe média brasileira a partir da década de 1970, em bairros como Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, ou Morumbi, em São Paulo: morar afastado do centro, numa casa ampla com mais de duas vagas na garagem. O novo sonho da classe média é viver perto do transporte público. Segundo a imobiliária Lopes, 63% dos futuros lançamentos residenciais em São Paulo estarão a até 1 quilômetro de uma estação do metrô. “Estar perto delas valoriza os imóveis em cerca de 20%”, diz Mirella Parpinelli, diretora da Lopes.
Nos Estados Unidos, os jovens estão comprando menos carros, tirando carteira de habilitação mais tarde e dirigindo menos quilômetros. A fatia de mercado do público entre 21 e 34 anos encolheu de 38%, em 1985, para 27%, diz o instituto de pesquisas CNW. A Universidade de Michigan afirma que, em 2008, 18% da população entre 20 e 24 anos não tinha carteira de motorista – em 1983, esse índice era de apenas 8%. Segundo o grupo de estudos Frontier, a distância percorrida por motoristas entre 16 e 34 anos diminuiu 23%, entre 2001 e 2009. No mesmo período, o uso de bicicleta aumentou 24%. A queda do interesse por carros é, em parte, fruto da crise econômica. Na Espanha, a taxa de desemprego da população entre 16 e 24 anos alcançou 53%. A recessão não é a única responsável pelo declínio dos carros. “Mesmo jovens empregados, ou de famílias ricas, estão dirigindo menos”, afirma Tony Dutzig, responsável pelo estudo do Frontier. A General Motors encomendou uma pesquisa à MTV Scratch, consultoria que estuda tendências de consumo. Cerca de 3 mil jovens apontaram suas marcas favoritas, num universo de 31. Google e Nike lideraram a lista. Nenhuma montadora ficou entre as dez primeiras. Para Jim Lentz, presidente do departamento de vendas da Toyota nos Estados Unidos, o desapego juvenil veio para ficar. “Temos de encarar a realidade crescente de que os jovens não parecem interessados em automóveis, como eram as gerações anteriores”, diz Lentz.
A perda de interesse por ter um carro particular é uma novidade histórica. Automóveis viraram parte das famílias de classe média desde 1908, quando o americano Henry Ford lançou o Modelo T, vendido inicialmente por US$ 850 (US$ 21 mil, em valores de hoje). Antes do Ford T, carro era brinquedo de gente rica e excêntrica. Depois dele, tornou-se um produto de massa. “Farei um carro grande o bastante para levar a família, e pequeno o bastante para uma pessoa dirigir e cuidar”, disse Ford, em seu livroMinha vida e trabalho. “Ele terá preço tão baixo que todo homem de bom salário será capaz de ter.” A produção anual da Ford passou de 10 mil unidades, em 1908, para mais de 2 milhões, em 1923. Hoje, o mundo tem cerca de 1 bilhão de carros. A cada ano, são fabricados 60 milhões.
No século XX, o automóvel se tornou parte indissociável da sociedade. “Perguntar se os carros moldaram a cultura ou se a cultura moldou os carros é uma variação da questão entre ovo e galinha”, diz Paul Ingrassia, autor do livro Engines of change (Motores de mudança, inédito no Brasil). A urbanização dos EUA foi sustentada pelo meio de transporte individual, com moradias distantes do centro da cidade, ligadas ao local de trabalho por vias largas. O Brasil acompanhou esse modelo após a década de 1940, abandonando o investimento em trens e bondes, em favor de ruas e avenidas para carros.
No pós-guerra, o carro se estabeleceu como instrumento de afirmação dos jovens, ao proporcionar liberdade, coesão social e status. Esse papel foi registrado nas produções artísticas. No livro Pé na estrada (1957), de Jack Kerouac, garotos cruzam os Estados Unidos num carro. No caminho, fazem amigos, descobrem o mundo e se descobrem. No filme Juventude transviada, de 1955, James Stark, interpretado pelo ator James Dean, usa calça jeans, camiseta branca, fuma e tem um carro. Sentados num para-choque, ele e sua garota combinam nunca mais voltar para a casa de seus pais. Quando desperta a ira do líder de uma turma rival, Stark combina um duelo ao volante. Nas horas vagas, Dean era piloto. Morreu dirigindo seu Porsche Spyder, aos 24 anos, fundindo ator e personagem num mito da juventude eterna. O paradigma para os homens maduros surgiu em 1962, nos filmes de James Bond. O agente 007 usava terno e gravata, fumava cigarro, dirigia um Aston Martin e tinha mulheres a seus pés. James Dean e James Bond personificaram o padrão ocidental de sucesso masculino. “Um homem com mais de 26 anos, dentro de um ônibus, pode se considerar um fracassado”, disse Margaret Thatcher, em 1986, quando era primeira-ministra do Reino Unido.
A mensagem
Para os motoristas
Razões do sucesso do carro, como prazer de dirigir e liberdade, estão comprometidas pelo trânsito excessivo
Para os pedestres
A indústria automotiva tenta reagir para se reafirmar como aliada da mobilidade urbana
 A frase de Thatcher tende a virar um registro de uma era que passou. A fumaça dos automóveis, com seu motor a combustão, segue caminho semelhante ao da fumaça dos cigarros. Assim como o cigarro virou alvo de campanhas que apontam o fumo como causa de doenças, o carro foi eleito um dos grandes culpados pelas mudanças climáticas. A causa ambiental ganhou força após a exibição do documentário Uma verdade inconveniente (2006), do ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, e da realização do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), daOrganização das Nações Unidas (ONU), em 2007. O documento da ONU afirma que o transporte rodoviário responde por 24% das emissões de CO2 nos Estados Unidos e 22% na Europa. A condenação do carro coincidiu com a emergência dos artigos eletrônicos, como smartphones e tablets, como sonho de consumo. Eles cumprem papéis historicamente atribuídos aos carros: encurtam distâncias e exprimem a individualidade de seu dono. Sua constante inovação confere status social àqueles que compram o último modelo. “Muitos jovens preferem comprar smartphones a tirar habilitação”, diz Tony Dutzik, pesquisador do Frontier. “Eles reduzem a necessidade de locomoção, para manter contato on-line com os amigos.”
Formas de uso mais flexível dos meios de transporte também começam a se afirmar. Rio de Janeiro e São Paulo adotaram sistemas de aluguel de bicicletas, seguindo o modelo do programa Vélib, de ParisLos Angeles, cidade americana historicamente devotada ao automóvel particular, está implantando corredores de ônibus rápido, com faixas exclusivas, como em Curitiba, no Paraná, e Bogotá, na Colômbia. O ciclista deixa sua bicicleta num rack, à frente do ônibus, e sai pedalando de qualquer ponto. Em São Paulo, a empresa Zazcar aluga carros por frações do dia, debitáveis de um cartão pré-pago. A inspiração é a empresa Zipcar. Fundada em 2000, nos Estados Unidos, a Zipcar tem cerca de 770 mil clientes.
A indústria do automóvel está reagindo. A nova tendência entre as montadoras é tentar se afirmar como empresas de mobilidade, em que o carro é uma entre várias opções. O Salão do Automóvel de São Paulo foi um sinal da mudança de ares. Nunca o evento teve tantas bicicletas quanto na 27ª edição, encerrada em novembro. Foram ao menos 12, presentes no estande de nove montadoras. Estavam ali para enfeitar carros de apelo jovem, como o jipe EcoSport, mas não só por isso. “Dependendo da aceitação do público, passaremos a vender nossa bicicleta elétrica no Brasil”, diz Oswaldo Ramos, diretor de marketing da Ford. “Ela é importante para fortalecer nossa imagem.” Na Europa, a BMW lançou um aplicativo de smartphone que mostra a maneira mais rápida para ir de um lugar a outro. Por vezes, o roteiro propõe estacionar o carro e pegar um trem. “A marca BMW tem a ver com eficiência e prazer”, diz Henning Dornbusch, presidente da BMW do Brasil. “Queremos proporcionar isso, mesmo se a locomoção mais eficiente e prazerosa não incluir o carro.” A empresa implantará na Alemanha um projeto de compartilhamento de garagens. Quem mora no bairro A e trabalha no bairro B poderá trocar de vaga, durante o expediente, com quem faz o caminho contrário. “Queremos incentivar o melhor uso do espaço”, diz Dornbusch.
GUERRA DAS ESTRELAS O ator Arnold Schwarzenegger (acima) num Hummer. Ele chegou a ter sete na garagem. Harrison Ford (abaixo) e seu Prius (Foto: Don Hogan Charles/The New York Times e London Entertainment/Splash News)

Só os mais frugais sobrevivem (Foto: reprodução)
A oferta de carros híbridos e elétricos é outra resposta da indústria automobilística às críticas à poluição. O exemplo mais bem-sucedido é o Prius, lançado pela Toyota em 1997. Em baixas velocidades, ele usa um motor elétrico, sem emitir fumaça. Um pequeno motor a gasolina é acionado em altas velocidades e para recarregar as baterias. O uso combinado permite ao carro rodar a média de 20 quilômetros por litro de gasolina, metade do consumo de um Toyota Corolla. O Prius era (e é) caro, como foram outras tentativas de fugir ao tradicional motor a combustão. Segundo o jornal The New York Times, a economia de combustível de um carro híbrido leva oito anos para compensar o maior investimento na compra. O Prius deu certo ao se firmar como alternativa ecologicamente correta em oposição aos Hummers – jipões capazes de escalar paredes, com consumo na casa de 6 quilômetros por litro. A diferença entre os dois mundos foi registrada pelo The New York Times na festa do Oscar de 2004. “Hugh Hefner (o já decadente fundador da revistaPlayboy) chegou num Hummer”, disse o jornal. “Tom Hanks chegou de Prius.” Em janeiro, a Toyota lançará o Prius no Brasil. Não é uma aposta no escuro. No ano passado, a Ford vendeu no país 200 unidades da versão híbrida do Fusion, por R$ 130 mil – 60% mais que o modelo comum.
Motores menos poluentes reduzem o impacto ecológico do carro, mas não alteram seu impacto no espaço. Em silêncio, e sem emitir fumaça, o motorista de um híbrido continuará limitado pelo tráfego e pelas leis de trânsito. No futuro, aqueles que amam dirigir rápido, como nos filmes de James Dean e James Bond, encontrarão saída em lugares fechados. Os condomínios autódromos já existem nos Estados Unidos. Em breve chegarão ao Brasil. Em vez de campo de golfe ou haras, a atração principal será uma pista de corrida, que ocupa uma grande extensão do terreno, cercado por casas. Uma imobiliária planeja lançar um assim, no interior de São Paulo, assinado pelo ex-bicampeão de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi. Cada vez menos agradável nas cidades, o carro particular poderá um dia deixar de ser um meio de transporte para voltar a ser um mero brinquedo.
Redução de marcha (Foto: reprodução)
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