quarta-feira, 1 de maio de 2013

O que o mapa do cérebro vai mapear? FAVOR RESUMIR ESTE TEXTO EM 25 LINHAS E ME MANDAR LOGO.



Os belos mapas cerebrais de ressonância magnética por difusão ainda não vêem sinapses (Imagem: V. Wedeen)
O PRESIDENTE BARACK OBAMA bem que se esforçou ontem para dar à Iniciativa BRAIN —seu novo pacote de estímulo à neurociência— a cara de um projeto candidato a ser marco histórico na ciência. E o esforço deu certo: a imprensa americana fez muitas referências ao fabuloso programa que dará início a um ambicioso “mapeamento do cérebro”.
Em seu pronunciamento, Obama se postou providencialmente ao lado de Francis Collins,  ex-chefe do famoso Projeto Genoma Humano, para anunciar a novidade. Incluiu a empreitada em sua lista de “Desafios do Século 21″: metas da sociedade que exigem importantes transições de fase na ciência e na tecnologia. Sugeriu até uma possível corrida internacional em em torno do objetivo, prometendo fazer os EUA chegarem na frente dos europeus, que já têm um projeto para simular o cérebro humano em computador.
No final do dia, porém, ficamos sem saber para onde o mapa do cérebro prometido por Obama vai nos levar.
“Mapear as conexões entre neurônios”, “desvendar a mente” ou “simular o cérebro” são expressões que podem ter muitos significados diferentes. Essa falta de objetividade foi alvo de crítica à própria concepção do projeto europeu, o Blue Brain, de Henry Markram. Sua simulação do cérebro humano parte de um conceito que os neurocientistas chamam de “regra de Peters”, segundo o qual alguns aspectos da distribuição das sinapses (conexões entre neurônios) são aleatórios. Esse atalho foi necessário porque mapear efetivamente todas as sinapses antes de fazer uma simulação seria um esforço de escala inimaginável.
Markram certamente conduz um trabalho cuidadoso, mas é alvo de duras críticas por parte de cientistas que defendem outra abordagem. “Qualquer um pode simular um grande número de equações e ‘alegar’ que elas agem como um cérebro”, diz Sebastian Seung, do MIT. “Qual é a prova, então?”.
Seung, que expõe suas críticas no livro “Connectome” diz que faltam ao meio neurocientífico critérios claros para julgar o sucesso de programas que visam esquadrinhar o cérebro por completo. O próprio Markram já havia lançado antes severas críticas a Dharmendra Modha, da IBM, que disse ter simulado um cérebro completo de um gato completo em 2007, prometendo a versão humana para breve.
Segundo Seung, a única maneira de confirmar se simulações do cérebro estão corretas —sejam elas mais complexas, como a de Makram, ou mais simples como as de Modha— é implantando-as num corpo ou em algum aparato físico capaz de interagir. Dessa forma, veríamos se elas se comportam como pensamentos humanos ou não. Pode até ser que esse cyborg seja capaz de se fazer passar por gente, o que seria uma revolução tecnológica em si. Mas isso, claro, ainda está no domínio da ficção científica. Há pesquisadores no campo, como o brasileiro Miguel Nicolelis, que duvidam que o cérebro seja computável.
O núcleo de cientistas de Seung (que também inclui Jeff Lichtman, de Harvard), porém, defende uma abordagem mais mundana para “mapear o cérebro”. Vários deles estavam ontem na plateia do discurso de Obama. A ideia deles é esquadrinhar cada uma das cerca de 100 trilhões de sinapses humanas usando microscópios de alta resolução (falei um pouco da iniciativa nestepost e neste outro), apostando que isso trará uma virada qualitativa à neurociência. Mas o próprio Seung reconhece que, apesar de já haver tecnologia para tal, isso é trabalho para um século inteiro. Mapear um cérebro de camundongo, ou uma parte de um cérebro humano, seria uma meta mais realista por enquanto.
Posso estar sendo pessimista, mas quando os líderes da Iniciativa BRAIN atribuírem objetivos mais concretos ao projeto, duvido que eles fixem o conectoma humano completo como meta. Isso não quer dizer, claro, que não possam ser adotados objetivos importantes, como a melhora da resolução da tecnologia por ressonância magnética, usada nos melhores mapas cerebrais de hoje.
Antes que tecnologias como essa deem conta de enxergar as minúsculas sinapses, porém, a “corrida para mapear o cérebro” será apenas uma caricatura daquilo que foi a corrida pelo genoma humano. Até que surja uma tecnologia revolucionária, será uma corrida lenta, bem lenta

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