terça-feira, 28 de maio de 2013

PROPOSTA DE CARTA DISSERTATIVA. ASSUNTO.INCÊNDIO EM SANTA MARIA (RS)

Há quatro meses no hospital, vítima da Kiss aguarda volta para casa; outros três estão internados 

Lucas Azevedo
Do UOL, em Porto Alegre
  • Arquivo pessoal
    Cristina Peiter, 24, é uma das sobreviventes do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS)
    Cristina Peiter, 24, é uma das sobreviventes do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS)
Nesta segunda-feira (27) completam-se quatro meses que Cristina Peiter, 24, a "Tina", vive em um leito de hospital. Ela é uma dos quatro sobreviventes da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, que permanecem hospitalizados.
Na madrugada do dia 27 de janeiro deste ano, um incêndio destruiu a casa noturna onde centenas de jovens comemoravam. Ao todo, 242 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas.  
Assim como Tina, seus dois vizinhos do sétimo andar sul do HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre), Marcos Belinazzo Tomazetti e Renata Pase Ravanello, também vítimas do incêndio, podem receber alta nos próximos dias.
Já a quarta sobrevivente internada, Ritchieli Pedroso Lucas, 19, que está no Hospital Mãe de Deus, se recupera bem, mas ainda não tem previsão de alta, conforme seu pai, Bráulio Lucas. A jovem perdeu a irmã, Driele Pedroso Lucas, 23, a 241ª vítima da tragédia, no dia 7 de março.     
Tina sofreu queimaduras de terceiro grau nos braços e nas costas, na região das escápulas. Foram três meses sem poder falar e 22% do corpo queimado. Deitada na maca do leito 751 sul, do HCPA, ela vai aos poucos revelando seus desejos e anseios para esta nova vida.    

POLÍCIA DIVULGA NOVAS IMAGENS FEITAS DENTRO DA BOATE KISS

Rotina  

Devido a extremos cuidados de higiene para evitar infecções, o dia a dia de Tina se restringe ao leito, de onde pela janela consegue contemplar uma confusa vista de prédios da região central de Porto Alegre.
Mas não é esse tipo de paisagem que ela sonha em poder fazer parte novamente. Assim que deixar o hospital, Tina vai para a cidade onde moram os pais, Casca, município de 8.600 habitantes no noroeste gaúcho.
Pretende se recuperar por lá, na casa da família, acompanhada dos três mascotes. "Meu maior desejo é ver meus cachorros. É o que mais quero, o que mais sinto falta." Tina teve que fazer uma série de enxertos. Os médicos retiraram pele de suas pernas para cobrir os braços e a região dos ombros.

NÚMEROS DA TRAGÉDIA

  • 242 mortes


  • 622 feridos


  • 864 pessoas na boate


  • 3h17

    (hora do incêndio)

    "Tiraram pele das minhas coxas, quatro vezes de cada uma, e das costas para enxertar. Mas não preciso mais de enxerto, embora algumas áreas ainda estão abertas", disse.  
    O braço esquerdo se recupera bem, não precisa mais de curativos, e a pele nova já cobre todos os ferimentos. Já o direito ainda está bastante machucado. Uma camada branca de óxido de zinco - substância antisséptica - cobre todo o membro, do ombro ao punho. "Não tinha nada de pele, os tendões da mão estavam à mostra. Quem via não acreditava que ia ficar bem."  
    A mão direita também foi bem ferida. Devido aos ferimentos, a circulação sanguínea foi afetada, e por pouco ela não foi amputada. Sessões intensas de fisioterapia ajudam na retomada dos movimentos.
    A pele ainda está chamuscada, mas as unhas parecem bem cuidadas, cortadas e lixadas perfeitamente como Tina costumava fazer cotidianamente, antes do 27 de janeiro. A recuperação fora do hospital será lenta.
    A pele nova pode demorar até dois anos para se estabilizar, e, só depois, a estudante saberá da necessidade de passar por cirurgias corretivas. E é esse acompanhamento extra hospitalar que preocupa a jovem. "O atendimento [no hospital] está sendo ótimo. Mas o nosso medo é depois da alta", afirma.    
    Ampliar

    Tragédia na boate Kiss, em Santa Maria (RS)111 fotos

    4 / 111
    2.fev.2013 - Jornais de Santa Maria (RS) publicam anúncios das missas de 7º dia dos mortos no incêndio da boate Kiss. Todas igrejas locais terão atos durante todo o sábado para dar conta de dezenas de missas para cada vítima da cidade. "Vamos expressar nossa dor e exigir a identificação dos culpados pelo incêndio", disse o comerciante Carlos Merino, que pretende participar de celebrações e vigília Leia maisRodrigo Bertolotto/UOL

    Memória

    Tina fala devagar e baixinho, com voz rouca. Essa fragilidade é decorrente da regeneração de suas cordas vocais, queimadas pela fumaça tóxica aspirada dentro da boate. Da noite do incêndio ela lembra em flashes.
    "Da onde eu estava não enxergava o palco. Parou a música, até que alguém gritou 'fogo'. Logo apagou a luz e começou a fumaça. Não conseguia nem respirar nem ir para a frente", relata.
    "Muitos começaram a cair e outros caiam por cima, e não se conseguia mais andar. A última coisa que passou pela minha cabeça foi 'não é possível que eu vá morrer aqui'. Eu não tinha mais esperança de sair. Daí apaguei."    
    Tina diz não saber como saiu da Kiss. Lembra apenas que acordou do lado de fora, no meio da rua, em meio a caminhões de bombeiros e pessoas caídas. "Eu 'tava desesperada. Era muita dor. Olhei para os meus braços e vi minha pele escorrendo." Ela foi socorrida e levada para o hospital de Caridade de Santa Maria.    
    Como seu quadro foi considerado de extrema gravidade, no início da tarde daquele domingo, 27, ela foi transportada por um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para Porto Alegre, onde passou 18 dias inconsciente no CTI (Centro de Tratamento Intensivo). 
    Tina diz que ainda não encontrou explicações para seus ferimentos. Afirma que a esponja derretida que fazia o isolamento acústico caiu sobre seu corpo. Mas mesmo assim há dúvidas.
    "Não consigo entender como foi. Queimei os braços, os ombros, as costas, mas nada das pernas, dos pés. Queimei a testa, mas não queimei o cabelo nem a sobrancelha. Não entendo o que aconteceu."  
    Apaixonada pela natureza, optou pela mesma profissão do pai. A estudante do último semestre de engenharia florestal na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) pretende acompanhar sua turma na formatura, em agosto.
    Mesmo ainda debilitada, ela planeja fazer os dois meses de estágio obrigatório para a conclusão do curso e se formar na data marcada. "Minha formatura é agora, em agosto. Em princípio vou conseguir me formar." 

    FONTE. UOL.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário